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domingo, 28 de agosto de 2011

Bandidos ou Heróis?


Esse meu postulado de que o deus truculento do Antigo Testamento (AT) é uma invenção judaica para justificar as atrocidades praticadas em nome da religião permite-me fazer algumas conjeturas que outro postulado não permitiria. Lembremos que a história clássica tem só um lado: o lado dos vencedores. Ninguém que morreu voltou para nos contar a causas mortis. Muito menos para contar em que proporção a luta se travou ou os desafetos que sofreram antes da reação.
Estou pensando em Coré, Datã e Abirã que segundo o relato bíblico foram sepultados por um terremoto ou vala aberta pela natureza contristada por terem se insurgido contra Moisés e contra Deus. Em Nm 16 está registrado que eles provocaram uma rebelião por terem duvidado que Moisés estivesse conduzindo-os a algum lugar. Na realidade são quatro pessoas: Coré (líder, da tribo de Levi), Datã, Abirã (irmãos) e On. Após um longo tempo vagando no deserto, passando muitas vezes pelo mesmo lugar, eles suspeitaram que Moisés estivesse enrolando o povo. Talvez tivesse  com medo de enfrentar os povos inimigos, talvez estivesse cansado, desgastado ou sentindo-se abandonando por Deus. A sua idade avançada levou-os a  suspeitar de anormalidade  na direção.
Corrupção na liderança? Influências negativas dos seus sobrinhos? Perda de objetividade? Medo? Falta de assistência divina?
Eles se puseram nas “ruas” como os “caras pintadas” para destituir um líder e eleger outro. Nós que estamos muitos séculos depois e olhamos para trás, pelo viés da história dos vencedores, vemos um fiasco, uma rebelião apenas. No lugar deles, olhando para frente, vendo o futuro incerto e suspeitando de engano o que faríamos? O que a história contará de nós?
As mulheres, no passado, eram dominadas pelo poder masculino. O futuro delas era mais incerto do que o dos homens até que em algum tempo uma(s) mulher(es) suspeitaram de que algo estava errado e que poderia ser diferente. Iniciou(aram) o movimento, pagou(aram) com a vida essa ousadia e hoje a história das mulheres (em muitos países)  é outra. Aquelas “bandidas”, “corruptoras dos bons costumes”, “desordeiras" e "avessas à ordem constituída” hoje são heroínas.
Graças à ousadia delas as mulheres de hoje, pelo menos nos países que evoluíram, são respeitadas.  Elas (as ousadas) morreram, mas o mundo não foi mais o mesmo depois delas.
Os quatro homens da nossa história ousaram tentar reverter um quadro e  morreram como “bandidos”, mas será que o mundo foi o mesmo depois deles? Será que a peregrinação não tomou novo rumo depois daquela manifestação? Será que não houve reformulação na liderança de segundo escalão?
Eles morreram, mas conseguiram incomodar e depois disso “Deus” se manifestou novamente fazendo florescer “vara de Aarão” (Nm 17). Eles romperam o silêncio divino e é possível que o povo tivesse mais voz perante Moisés depois disso. “Deus” reconheceu que precisava dar uma resposta ao povo. Finalmente, eles foram sepultados em uma vala aberta por “Deus”.  A terra os engoliu e milhares  de pessoas são engolidas hoje nos países totalitários. A terra ainda consome, nos países pobres em que a falta de assistência antecipa a vida jovens, milhares abrindo as suas fauces sem piedade e engolindo-os em seus cemitérios. Morrem sem direito a uma história digna.
Não estou defendendo Coré, Datã, Abirã e On, estou apenas conjeturando a partir do meu postulado. Não conheço nenhuma outra versão da história deles. Sei apenas o que me foi contato pelo vencedor.
Se o leitor partir de outro postulado fará outras conjeturas. A história é a mesma, mas as conclusões podem ser diferentes. Meu postulado é que os crimes e equívocos cometidos naquele tempo não devem ser atribuídos a Deus. Foi erro da liderança que, para desculpar-se, atribuía tudo à divindade como era comum a todos os povos daquela época.
Nova Andradina, 28 de agosto de 2011.
Antonio Sales                                              profesales@hotmail.com

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Postulados da Fé



Com o significado de “pedir para aceitar” um postulado é um ideia fundamental em qualquer campo do conhecimento humano. Um postulado é o ponto de partida na construção de uma teoria. É a ideia inicial que não está posta em discussão, que é aceita como verdadeira sem explicação. Pode-se aceitar ou rejeitar um postulado nunca, porém, discuti-lo.  Propor a discussão de um postulado é o mesmo que rejeitá-lo.
O postulado fundamental da fé cristã é a existência de Deus e pode ser expresso nas palavras: Deus Existe.
A existência de Deus não pode ser demonstrada ao modo dos geômetras e não pode ser negada sem deixar de ser cristão. Nenhum arrazoado é suficientemente lógico para provar a existência de Deus.
Dirá algum leitor: “mas há evidências”.
Há, sem dúvidas, evidências. Tantas evidências quantas se quiser ter porque uma evidência é resultado de um postulado. Ela é construída a partir dele.
Quem postula a existência encontra (ou constrói?) evidências a favor. Quem postula a não existência encontra (ou constrói?) evidências contra.
Há um exemplo rústico, mas que me parece eficaz para ilustrar esse pensamento. Um cônjuge ciumento postula que está sendo traído pelo outro e a partir desse ponto constrói (ou encontra?) evidências por toda parte. Se o cônjuge atrasa estava “aprontando” e se chega mais cedo está disfarçando. Se sorri para alguém está conquistando, se passa sem ver, ou distraído, está fingindo. Se atende ao telefone demoradamente está agendando encontro e se a linha cai, desligou para não ser apanhado.
Portanto, evidências são construções pessoais a partir do postulado.
Um segundo postulado da fé cristã pode ser expresso nessas palavras: Deus Se revela ao homem. Desse postulado surge a Bíblia.
Na Bíblia encontramos evidência da sua origem divina. Quem não crê que Deus tenha se revelado através dos profetas hebreus encontrará em suas páginas evidências de que ela é produto humano.
Quem é criacionista encontra evidências da criação por toda parte e quem é evolucionista, evidências da evolução. Sou criacionista, mas sei que estarei perdendo tempo em discutir com um evolucionista. Creio em Deus, mas tenho que aprender a respeitar os ateus. Creio na inspiração divina da Bíblia, mas perderei tempo se tentar convencer quem não crê.
Postulei que os judeus construíram um deus truculento para justificar as ações que cometeram contra os povos de Canaã. Guerrearam em nome desse deus e precisavam manter esse postulado em vigor. De acordo com esse meu postulado o Deus pregado por Jesus não era o mesmo deus dos judeus e já registrei nos artigos anteriores as evidências que encontrei em favor do meu postulado. Acrescento mais uma.
Os judeus rejeitaram a Jesus porque Ele não trazia nenhum resquício do deus deles ou indicativo de ser filho desse deus. O deus hebreu mandaria o seu filho para guerrear contra os romanos e o Deus de Jesus enviou o Seu filho para aconselhar o povo a andar a segunda milha. Ele disse: “E, ao que quiser pleitear contigo e tirar-te o vestido, larga-lhe também a capa. E, se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas.”(Mt 5:40,41).
Segundo alguns comentaristas os soldados romanos costumavam humilhar um judeu fazendo-o carregar a sua bagagem pessoal por uma milha. Os judeus esperavam que o filho do deus deles fosse suficientemente ousado, como fora o pai, para humilhar os romanos. Jesus os decepcionou. Encontraram evidências de que Ele era um embusteiro. Se Ele não tinha competência para enfrentar os romanos como poderia falar em ressurreição?. Ver Mt 27:63.
Portanto, caro leitor, a sua fé está baseada em postulados. Você encontra na Bíblia aquilo que os seus postulados determinam. Você encontra na sua religião as evidências de verdade que os seus postulados lhe permitem construir.
Postulei que Jesus não é o mesmo deus dos judeus e encontrei evidências disso nas Escrituras. Se você postular o contrário de mim por  certo verá nesses mesmos textos evidências a seu favor. Faça o teste e depois comente comigo.

Nova Andradina,26 de agosto de 2011.
Antonio   Sales                                profesales@hotmail.com

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Deus contra si mesmo?


 Este texto é continuação do anterior cujo título é “Deus”.
Naquele texto supus que o Deus guerreiro e excludente do Antigo Testamento (AT) é uma invenção dos judeus. Apresentei algumas razões para isso. Essas razões são constituídas na diferença de comportamento entre esse judaico Deus e Jesus que Se apresentou como Seu representante legítimo.
Imagino que quando Jesus afirmou que Ele e o Pai eram um (Jo 14: 9,10 ) e quem vê a Mim vê o Pai estava querendo enfatizar a unidade no caráter de ambos. De igual modo suponho que Ele não teria Se confrontado com os fariseus se partilhasse do pensamento deles.
Hoje retomo essa questão de um Deus forjado pelos judeus com base em algumas contradições internas. Penso que Deus não pode ser contra Si mesmo.
Quando houve a divisão das tribos e as dez tribos do norte com capital em Samaria deixou de prestar obediência aos descendentes de Davi, os samaritanos  foram excluídos da amizade, do respeito e do direito de participar do culto no templo de Salomão com a anuência do Deus dos judeus. Jesus algum tempo depois reintegra esse povo começando o seu trabalho por uma mulher mal vista (Jo 4) até no seu próprio povoado. Parece que Ele quis mostrar que o pior samaritano não era pior do que o melhor judeu.
Ele não poupou elogio aos samaritanos.  No breve relato dos evangelhos vemo-Lo elogiando um ex-leproso samaritano (Lc 17) e a bondade de um viajante, também samaritano (Lc 10). Por que samaritano se a estória comportaria qualquer um?
No quinto livro da Torá vemos Deus excluindo os povos da comunhão com Ele e depois vemo-lo mandando Jonas pregar a um povo que não sabia distinguir a mão direita da esquerda (Jn 4:11) e inimigo dos judeus.
Como o povo judeu era exclusivista e procurou isolar-se do todos ao redor Deus o enviou ao cativeiro babilônico por setenta anos (cerca de três gerações) para que aprendesse a viver entre os outros (Dn 9).
A pergunta que fica é: como um Deus que exclui pode se preocupar com a inclusão? Estaria Deus agindo contra Si mesmo?
O povo judeu viu-se como peculiar, propriedade particular (Dt 7:6), e esqueceu-se que essa particularidade estava na responsabilidade de ir até os outros povos e incluí-los nas bênçãos celestiais. Quando Jesus expirou na cruz e o véu do santuário rasgou de alto a baixo (Mt 27:51) estava explicito o rompimento de Deus com os judeus, com aquele sistema fechado de culto, com aquela visão de divindade truculenta e excludente.
Ele não concordava com o que ensinavam sobre Ele.
Não consigo ver Jesus como o Deus do AT. Um Deus que estabelece um programa rígido e servil de adoração.
As questões que me importunam  são:
1.      Queria Deus que o povo fosse mantido sem criatividade para adorá-Lo? Nesse caso, onde estaria o livrearbítrio e a espontaneidade?
2.      Uma ovelha-homem não é igual a uma ovelha do gênero ovino. As duas devem seguir o pastor, mas,  com a mesma imbecilidade? Deus trataria a mim e a você com os mesmos critérios com que um pastor cuida do rebanho: vigiando cada passo e impedindo que “fujam” do caminho?
3.      Um pastor contenta-se com a lã, o leite e a carne das ovelhas. Elas são criadas para isso. Deus nos criou para sermos explorados por Ele? 
4.      Um pastor alegra-se com o simples lamber da mão por uma das suas ovelhas, num gesto simplório de gratidão. É o melhor que ela pode fazer. Sua limitação cerebral não lhe permite expressar-se de outra forma. Deus Se contentaria com um culto engessado, excessivamente formal? Um gesto programado, palavras repetidas são agradáveis a Deus (Mt 6:7)? Não haverá algo melhor que possamos oferecer? O que seria um culto racional (Rm 12:1)?
Essas questões fazem sentido na medida em que pensamos em que Deus nós servimos. Se é a um Deus truculento que servimos é melhor não correr riscos, e variar o culto é correr riscos. É melhor olhar o “programa impresso” porque um resvalo pode ser fatal. Se servimos um Deus sério, mas amigo, um culto racional faz sentido.
Nova Andradina 22 de agosto de 2011
Antonio Sales                                               profesales@hotmail.com

sábado, 20 de agosto de 2011

Deus


Não sou teólogo. Minhas reflexões não possuem nenhuma base teórica. Tudo o que escrevo sobre Deus é produto das minhas reflexões, do meu livre pensar. Pode ser que um dia tudo isso evolua para uma teoria, mas pode ser que não evolua para nada. Estou em construção das minhas ideias sobre questões teológicas. O leitor deve ler este artigo com cuidado e me avisar se pisei em falso.
Tenho algumas questões que me angustiam. Suponho que estamos aceitando muita informação sobre Deus que não corresponde à verdade e que não engrandece o Seu caráter.
É quando comparo o Deus do Antigo Testamento (AT) com Jesus que fico com algumas interrogações. O Deus do AT parece-me um Deus decidido, que age, que faz enfrentamentos, que derrota e que interfere nas decisões humanas. Um Deus que se impõe inclusive nos detalhes da vida cotidiana.
Jesus parece-me diferente. É um Deus tolerante, que suporta a afronta e que deixa os homens resolverem os seus próprios problemas. Ele estava mais interessado em convencer os homens da supremacia do amor, da tolerância e do diálogo do que impor a Sua vontade e fazer valer a Sua autoridade.
O Deus do AT marcou povos inteiros para morrer em favor de Israel enquanto Jesus disse: “Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem (Mt 5:44)”.
As diferenças entre os dois são tão marcantes em alguns aspectos e as semelhanças são igualmente marcantes em outros aspectos que chego a supor que muito do que é atribuído ao Deus do AT é invenção judaica.  Com isso quero dizer que os suponho fazendo certas barbaridades e depois atribuindo a Deus. Matavam em nome de Deus.
Algo semelhante ao que acontece hoje: fala-se muita bobagem em nome de Deus nos púlpitos evangélicos. Faz–se muita pressão psicológica, muita lavagem cerebral, muitas ameaças que Deus não faria ou não autorizaria, se fosse consultado.
Algumas semelhanças entre Jesus e o Deus do AT:
1.                      Jesus condenou a hipocrisia do povo judeu; condenou a exploração das viúvas e órfãos (Mt 23:14). O Deus do AT enviou profetas (Miquéias, Zacarias, etc.) para expor a hipocrisia do povo que trazia vultosa oferta ao templo a custa de “balanças” desonestas, a custa de exploração do trabalhador.
2.                      Jesus compadecia-Se dos sofredores, dava orientação e curava as suas feridas. O Deus do AT libertou o povo escravizado e constituiu sacerdotes, profetas e juízes para orientá-lo.
3.                      Jesus orientou aos discípulos que deveriam pregar a todo mundo e ensinar o que Ele pregou no Sermão do Monte (Mt 5-7). Deus conduziu Jonas a Nínive para levar a mensagem de arrependimento aos ninivitas.
4.                      Jesus disse que devemos ser luzes para alumiar o caminho do que estão em trevas morais (Mt 5:13-16). Deus disse que o povo judeu deveria ser luz para os gentios (Isa 60:1 ).
5.                      Jesus aceitou seguidoras provindas de um nível moral pouco recomendado socialmente, dispensou atenção a uma cananeia e acolheu publicanos (Mat 9:9; MT 15;Mt 26:6-13; Lc 19). Deus aceitou o culto de Raabe, de Rute e ansiava ver os gentios sendo acolhidos em Sua casa de oração (Jos 6;Isa 55).
 Há muitas semelhanças. Todas as semelhanças estão concentradas na preocupação com a salvação e a elevação do nível ético e moral do povo. Na preocupação em mostrar amor e ensinar a amar. Na libertação dos oprimidos do preconceito e anunciar “Boas Novas”. São semelhantes no cuidado com a saúde física e recuperação da autoestima das pessoas que sofrem qualquer estigma.
Há diferenças também entre Eles.
1.                      Jesus disse que o Seu reino não era deste mundo e o Deus do AT mandou destruir aqueles que não concordavam com a constituição de uma nação teocrática (Dt 7:6).
2.                      Jesus ordenou que os Seus discípulos fossem a todo mundo pregar o evangelho e o Deus do AT isolou o povo judeu, mandando que mantivesse distância dos povos ao redor.
3.                      Jesus suportou Judas entre os Seus discípulos embora soubesse das falcatruas que fazia e Deus do AT mandou apedrejar um homem porque colhia lenha num dia de sábado (João 12; Nm 15:33).
4.                      Jesus disse que Deus manda chuva e sol sobre maus e bons e Deus do prometia bênçãos somente para o povo escolhido (Mt 5:45; Dt 7).
5.                      Jesus disse que não havia razão para proibir um homem de pregar e curar somente porque este não O seguia e Deus mandou matar os feiticeiros (Mc 9:39).
6.                      Jesus disse que enviaria os Seus discípulos como ovelhas no meio de lobos e Deus mandou eliminar os “lobos”.
7.                      Jesus deixou que os homens resolvessem os seus próprios problemas familiares e Deus interferia nas decisões pessoais.
Essas semelhanças e diferenças quando se eleva em conta que Jesus disse que Ele e o Pai eram um tem me levado a supor que o Deus do AT, com as características de truculento, foi uma criação dos judeus para justificar as atrocidades cometidas contra os povos de Canaã. Querendo constituir uma raça pura e evidenciar que adoravam um Deus forte eles cometiam atrocidades em nome de Deus. Os líderes judaicos queriam dominar na forma de uma ditadura que interferia inclusive da vida particular e usavam Deus como escudo.
Há mais uma razão para  pensar assim: Jesus quando usou as Escrituras Hebraicas focalizou atenção no que elas diziam a Seu respeito e disse que os líderes judeus erravam não conhecendo as Escrituras. Eles conheciam as Escrituras que apresentavam um Deus tirano e Jesus queriam que conhecessem as Escrituras do Deus de amor (Mt 22:29;Lc 24: 27).
Campo Grande, 20 de agosto de 2011 
Antonio Sales                                                                    profesales@hotmail.com