Translate this blog

quinta-feira, 31 de maio de 2012

COMO EDUCAR FILHOS: UMA RECEITA INFALÍVEL


Tenho ouvido "educadores" apresentarem receitas infalíveis para educar filhos (dos outros).
Normalmente são pessoas que não têm filhos e por isso pensam que os pais não "programam" os seus filhos para serem como esses professores querem, porque (os pais) são mal intencionados. Esses pais, na concepção desses pretensos educadores, são felizes por terem  filhos trabalhosos.
Como esses "educadores", normalmente, são bem falantes e, nas igrejas evangélicas, ocupam o púlpito com frequência eles causam um prejuízo incalculável em termos de produzir culpa e baixa autoestima nos pais.
Qual a receita deles?
1.Ensina a criança no caminho em que deve andar que ela seguira invariavelmente o caminho indicado.
2.Estude a Bíblia  diariamente com seu filho que ele crescerá temente a Deus.
3. Ore diariamente como seu filho que ele nunca errará.
4.Leve- o para a igreja regularmente que ele será um cristão exemplar.
Há algumas outras prescrições, mas essas mostram o teor da receita.  Penso que o leitor já consegue ter uma ideia do receituário desses "educadores".
Penso que essa receita é verdadeiramente equivocada. Ela é infalível na sua proposta de produzir culpa sem ajudar em nada. São mentiras pregadas como se fossem verdades. Como as igrejas são compostas por ovelhas (pior ainda: composta por seres proibidos de pensar) elas são aceitas sem questionar e o marido ainda olha para a mulher e diz : "não te falei que você não educou os nossos filhos como devia? É tudo tão simples e você não deu conta".
Hoje eu entendo a minha filha quando ela diz que as igrejas evangélicas têm a particularidades de produzir distúrbios mentais nas pessoas, especialmente nas mulheres. Ela  é professora e saúde mental, pesquisadora e tem acompanhado estágios de acadêmicos em centros de tratamento psiquiátricos. Ela afirma que a maioria das  mulheres em tratamento são evangélicas.
Vamos analisar as  propostas dos "educadores"/pregadores. Mas vamos deixar essa questão de culpa para os pesquisadores em saúde mental e nos concentrar nas receitas infalíveis dos pregadores.
1.      Essa afirmação de que o jovem seguirá para sempre o caminho que lhe foi ensinado não leva em conta as escolhas pessoais, o livre arbítrio.
Há pessoas determinadas desde a infância e que resistem toda e qualquer orientação. Há aquelas que são "moldáveis", educáveis, más há as que são apenas controláveis enquanto pequenas. Temos visto famílias com quatro ou cinco filhos, todos educados, pessoas de bem, exceto um. Sobre esse os pais se perguntam: " onde errei? Será que errei em 20% das orientações que dei, ou das ações que pratiquei em família, e a natureza caprichosa canalizou todas para um filho só?"
Esses pregadores esquecem que eles mesmos pregam que Deus criou os anjos perfeitos e um deles, Lúcifer, se desviou e levou consigo a terça parte dos anjos (Ap 12). Porque eles não levam, essa receita infalível para Deus?
2. Dependendo do uso que se faz da Bíblia ela mais atrapalha do que ajuda. Pode produzir hipócritas (Mt 23 ) e santarrões renegados por Deus (Lc 19). Esses "educadores", por certo, preferem os hipócritas aos pensantes.
A Bíblia não é um manual, ela é um guia de orientações nem sempre específicas. Ela nem poderia ser específica uma vez que foi escrita para servir para todas  as épocas. Tratar de casos específicos torná-la-ia obsoleta em pouco tempo. Cada época tem seus dilemas, seu conflitos próprios, suas alternativas particulares . Cada civilização tem suas regras não necessariamente boas ou más, mas funcionais. Elas não precisam de regras específicas, mas de orientação para corrigir rumos. O cristianismo histórico percebeu isso. Percebeu que usar um único livro como regra produz desvios, radicalismos, retrocesso intelectual. Os fundamentalistas são pessoas (ou povos) de um livro só.
Dependendo de como se lê a Bíblia torna-se uma chatice para os jovens. Ela perde o brilho quando lida com os olhares de um moralista. Perde a graça quando ensinada como regra de conduta para os outros, como um manual para disciplinar os filhos,  como diretriz para provar que os outros estão errados e como "verdade" absoluta  para acobertar os  meus erros.
A esses pseudos educadores tenho vontade de perguntar: "por que você não disse isso para Deus quando Ele criou Adão e Eva? Talvez Ele tivesse evitado que o pecado entrasse no mundo." Ele não deve ter lido a Bíblia para Eva.
3.Creio que esse "educador" nunca leu  o livro de Gênesis (Gn 3). O diálogo diário com Deus não saciou a curiosidade de Eva, não fortaleceu o caráter de Adão e não evitou que nossos primeiros pais provassem da "droga".
Esses pregadores leem na Bíblia somente o que  lhes interessa e podem usar para produzir culpa nas "ovelhas". A religião deles se nutre da culpa.
4. Levar o filho para a igreja, orar com ele, ler a Bíblia com ele, são medidas salutares, mas que não garantem o resultado proposto pelo pregador.
Ao levar o filho para a igreja devo  orienta-lo a não  crer em tudo que é pregado lá? Devo ensina-lo a filtrar o que ouve? Devo orienta-lo a confrontar a pregação com a lógica? Devo contrapor o que é ensinado com a experiência? Devo levá-lo à Bíblia para se defender da culpa quer o pregador lança sobre ele?
A igreja forma as pessoas para quê? Para a submissão cega? Para viver  neste mundo com dignidade ou para passar por este mundo sonhando apenas com a eternidade? Para contribuir enquanto pessoa, cidadão, ou apenas com os dízimos e ofertas?
Enfim, do modo como  a igreja é conduzida, do modo como o membros são ensinados, com o nível de sermão que é pregado, etc., o que os nossos filhos ganham quando vão à igreja?
Pense nisso e responda para si mesmo.
Nova Andradina, abril de 2012
Antonio Sales    profesales@hotmail.com