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domingo, 24 de março de 2013

CRIAÇÃO X EVOLUÇÃO



Penso ser um debate infrutífero tentar contrapor a criação à evolução das espécies. Elas não se contrapõem e nem se complementam. São diferentes. Não são como o homem e a mulher, por exemplo,  que em alguns aspectos são opostos e até se intimidam e em outros se atraem e se complementam formando uma dupla saudável.
Criação e evolução partem de pressupostos diferentes e o curioso é que ambas parecem responder satisfatoriamente algumas questões e deixam a desejar com relação a outras. Como explicar a origem da vida a partir do nada, em um remoto passado, se hoje nem partindo de tudo que temos conseguimos produzi-la? Como explicar certas complexidades que muitos biólogos destacam em suas  observações, como o olho, as hemácias e o próprio ato da fecundação sem pensar em um planejador?
Por outro lado como pensar na existência dos  pinguins e outro animais polares se, segundo os criacionistas, no mundo original não havia desigualdade de temperatura  na terra e a mutação dos seres vivos não ocorre?  Como explicar as etnias, tão diferentes uma da outra, se todos vieram de um único casal e se não há mutação adaptativa?
Parece que uma explica melhor a origem e a outra explica melhor a continuidade, mas nem por isso se complementam. Uma não aceita a explicação da outra e remoem sozinhas os seus próprios dilemas.
Já tivemos embates ferrenhos entre evolucionistas e criacionistas, mas hoje estão mais acomodados, estão aceitando as limitações de cada teoria.  De vez em quando ouço um evolucionista se mostrar admirado quando afirmo que sou criacionista. Ele acha um absurdo eu aceitar essa teoria. Por outro lado vejo, mais frequentemente ainda, criacionistas atacarem a evolução e até se mostrarem avessos quando me posiciono que a criação não explica tudo.
Parece que minha posição conciliadora os irrita. Talvez me achem inseguro, ou indeciso, alguém que quer agradar todo mundo. Na realidade tenho conseguido desagradar ambos os lados. Para os evolucionistas eu sou criacionista demais e para os criacionistas, sou evolucionista demais. Eles admitem que as duas teorias são irreconciliáveis e acham difícil alguém ora se posicionar de um lado e ora do outro. Uma teoria tem o poder de intimidar, inibir a pesquisa, e a outra, o poder de justificar as guerras. Se levadas a sério uma contribui para a produção de hipócritas e a outra, de agressivos.
Não tento harmonizar as duas, apenas vejo que nenhuma responde plenamente as minhas questões. Hoje não tenho certeza de nenhuma das duas.
Tenho me posicionado dessa forma porque ando com certo receio das pessoas cheias de certezas, das chamadas "cabeças bem feitas".  Esse pessoal é perigoso, provoca guerras,  produz "ferimentos" sem consideração para com a dor do outro. Uns matam em nome de Deus e outros, em nome da preservação da espécie.
Não quero morrer em nome de nenhum dos dois por isso fujo dos extremos,  das certezas absolutas, dos fundamentalistas, das "cabeças bem feitas". Navego no leito do rio, longe das margens. De vez em quando ancoro em uma delas para algum "abastecimento" necessário e logo volto para a amplidão onde a água é mais profunda. As questões que levanto são: por que  certos cristãos criacionistas atacam tanto a evolução? Por que certos evolucionistas atacam a criação e os criacionistas?
Penso que Paul Tournier explica quando diz que um motivo para neurose é quando insistimos em reprimir algo  que não conseguimos eliminar.
A insistência em combater a evolução tem indicado que muitos cristãos vivem a neurose de tentar reprimir aquilo que não conseguem eliminar (TOURNIER, 2002, p.26). A oposição dos evolucionistas e a resistência em dialogar com a criação indica que percebem alguma fragilidade na sua teoria. Se a criação se fortalecer porá em risco a teoria oposta? E se a evolução  se fortalecer os criacionistas temem perder a fé?
Nenhuma das duas teorias responde plenamente as minhas questões, por  isso sou criacionista. Nasci criacionista, tenho afeição por essa teoria e como ela contém tantas fraquezas e tantos pontos fortes quanto a outra fico em ela mesmo.
Ser criacionista implica crer em Deus. Creio em Deus porque a não crença traz um vazio maior. As questões que não resolvo com Ele também não resolvo sem Ele. Se a presença Dele me ajuda pouco a Sua ausência me ajuda tanto quanto ou menos.
Portanto, sou criacionista por um ato de fé. Em termos de origem ela me satisfaz melhor. Em termos de continuidade e para explicar a diversidade tenho simpatia pela evolução. Respeito ambas e deixo os adeptos de cada uma defenderem-se como puderem, desde que não ataquem os adeptos da outra.
Antonio Sales                       profesales@hotmail.com
Nova Andradina, 24 de março de 2013.

TOURNIER, Paul. Mitos e Neuroses: desarmonia da vida moderna. São Paulo: ABU Editora; Viçosa: Ultimato, 2002

segunda-feira, 18 de março de 2013

OS PACIFICADORES




Jesus no sermão da montanha afirmou que os pacificadores são o mais felizes(Mt 5:9). Por muito tempo não  entendi o que significa ser pacificador. Alguma coisa começou ficar mais clara após refletir em um artigo de Kanitz sobre violência simétrica. Penso que entendi melhor o que significa ser pacificador após ler este texto.
A frase popular de que violência gera violência só faz sentido quando se tem em mente a violência desordenada, assimétrica, que se vivencia no trânsito, que se encontra no contexto da marginalidade,  presente nas famílias  desordenadas.  Essa é também chamada violência selvagem.
Há violências que não são selvagens, que são controladas, que são necessárias ou não conseguimos viver sem ela.
Tenho pensado que viver é em si um ato de violência. Sacrificamos animais para sobreviver,  cortamos plantas para comer,  matamos insetos para nos proteger, nos estressamos para superar obstáculos, temos angústia quando  algo não sai tão bem quanto queremos e desalojamos do comodismo para produzir.
 Para entender essa problemática convém destacar que há a violência simétrica e a violência assimétrica, com salientou Kanitz. Uma é ordenada e a outra é desordenada. A violência simétrica, ordenada, não é geradora de violência. Ela organiza a vida da pessoa, e pessoas organizadas não violentam.
A violência simétrica ocorre nos tribunais  quando dois advogados se enfrentam na defesa e acusação do réu. São  profissionais de mesma competência, mesma formação, mesmo preparo intelectual e conhecimento de leis que se enfrentam. Também ocorre nos rings onde dois profissionais de mesmo preparo se enfrentam. No futebol os onze jogadores recebem treinamentos equivalentes, aprendem a organizar a queda, desviar-se do golpe, protegerem o rosto e conter a raiva, etc. Claro que há exceção, mas aqui estamos tratando dos casos gerais.
Outra característica da violência simétrica é que ela tem um espaço  reservado para ocorrer. Fora daquele espaço os profissionais são amigos, bons vizinhos, tomam café juntos. Enfrentam-se ferozmente no espaço reservado para  isso, mas esquecem o a fúria quando saem de lá.
Uma terceira característica é que ela tem um tempo para ocorrer. Esse tempo é anunciado com antecedência permitindo que os profissionais se preparem, intelectual, física ou emocional para o embate. Terminados o tempo quem perdeu, perdeu e quem ganhou, ganhou. O certo é que a luta acaba  quando acaba o tempo.
Mas há uma quarta característica:  a presença de um árbitro, de alguém que intervém quando há exageros, quando um corre o perigo de não suportar o embate ou ser seriamente prejudicado pelo outro.
O árbitro contribui  fortemente para que a violência seja simétrica, para que um não exagere em seu poder sobre o outro.
E aqui que entra a figura do pacificador.
 Viver é um ato de violência, como já dissemos. É uma violência continua. O estresse e a angustia são fatores de progresso pessoal. O sacrifício de animais para alimentação, o polimento de grãos, o corte e cozimento de vegetais  são atos de violência que garantem a nossa sobrevivência.
Um pacificador é uma pessoa que ameniza essa violência tornando-a mais próxima de uma violência simétrica, controlada. Quem luta pela conservação do meio ambiente é um pacificador.
Viver com outro ser humano é um constante embate, muitas veze marcado pela assimetria. Pacificador é aquele que faz a mediação para que a simetria se estabeleça.
É um pacificador aquele que faz palestra sobre relações familiares orientando sobre como diminuir os conflitos. Pacificador é o que denuncia abusos para que alguém com autoridade imponha a ordem e proteja o mais fraco.
Antonio Sales                         profesales@hotmail.com

Nova Andradina, 18 de março de 2013