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domingo, 26 de maio de 2013

A IGREJA VERDADEIRA-II




Este texto é continuação do anterior com o mesmo título publicado neste espaço.
Dissemos que toda igreja que afirma ser a única detentora da verdade deve ser olhada com suspeita. Estamos falando da verdade religiosa, ensinada pelas instituições religiosas
 Em toda instituição cujos lideres são suficientemente sábios, que tem uma liderança prudente, seus adeptos aprendem que a verdade que defendem é institucional, isto é, é particular daquela instituição.
As interpretações que fazem da Bíblia são influenciadas pelas crenças e concepções da liderança. Quem concebeu a organização da igreja formulou uma visão própria de leitura bíblica, defendeu uma crença que ele acreditava ser a verdade, criou o seu próprio referencial, elaborou a justificativa para a sua concepção e a partir desse ponto  procura ou procurou convencer outros da validade do modelo criado por ele.
Mas a interpretação humana tem os limites da humanidade, isto é, da vivência, dos preconceitos, da visão de mundo e de Deus que o sujeito tem. Tem o limite da cultura ou ambiente social onde viveu, da família que o educou, dos sonhos que alimenta e das ambições que cultiva. Enfim, toda interpretação é produto de uma historia de vida.
Por vezes supomos que alguém recebeu diretamente a iluminação divina, aquela iluminação que Deus negou aos outros. Isso é o que se pensa a respeito dos vários nomes que fundaram ou contribuíram para a fundação de uma religião. Todos que se tornam fundadores de alguma religião têm a pretensão de serem iluminados ou os seus adeptos os têm por iluminados. São profetas verdadeiros para o seu povo.
Cada instituição, portanto, cria a sua própria verdade, sua própria visão de mundo e de Deus; institui as suas próprias crenças e a sua a interpretação bíblica. Existem as regras “universais” de interpretação da Bíblia, a Hermenêuitica, como existem as regras para a interpretação de um texto literário, de um texto matemático ou de um texto jurídico, mas, em última instância, a interpretação é  um assunto pessoal; ela é resultado de vivência e das crenças de cada um ou de cada grupo.
Nesse caso onde está a verdade? Está na instituição religiosa que você escolheu ou foi convencido a escolher. A verdade religiosa que você crê ser a verdade absoluta foi produzida e se encontra na instituição à qual você é filiado. Verdade absoluta é aquela que você crê e defende e é por essa razão que os defensores dessa verdade são perigosos.
Jesus disse (Jo 14:6) “Eu sou o caminho a verdade e a vida”. Ele disse que a verdade não é uma doutrina, não é uma religião, não está na aplicação de um texto bíblico em particular, não é uma forma de ler a Bíblia. A verdade, para Jesus, consistia na aceitação do seu projeto de vida para os homens, um projeto de aceitação das limitações humanas, de tolerância para com o mais fraco e de incentivo à autonomia no relacionamento com Deus (Jo 4:24). A verdade, para Ele, era uma relação franca com Deus e não um conjunto de regras. Seu projeto era um projeto de serviço, de investimento no outro.
A igreja que se diz portadora da verdade está usurpando um direito que pertence tão somente a Cristo. Uma igreja séria diria: “nós cremos assim”. Ela nunca diria: “a verdade é esta”
Se é assim para que serve a igreja então?
A igreja é um instrumento para educação das pessoas para a vida em sociedade, para a autonomia moral, para o desenvolvimento de habilidades relacionais e para a vida comunitária na perspectiva do cristianismo.
Antonio Sales     profesales@hotmail.com
Nova Andradina, 25 de maio de 2013

domingo, 19 de maio de 2013

A IGREJA VERDADEIRA



Algumas igrejas têm a pretensão de terem seus ensinamentos fundamentados plenamente na verdade bíblica. Para os seus adeptos há uma única interpretação correta da Bíblica e esta é propriedade deles, da igreja à qual se filiaram. Essa certeza, não fossem os avanços sociais e a força das instituições que defendem os direitos humanos, os tornariam perigosos. Ao longo da história, quando não houve o cerceamento das instituições sociais, as pessoas cheias de certeza, convictas da verdade daquilo que sustentavam, aprisionaram, deportaram, mataram os dissidentes e agrediram os que discordaram das suas ideias. Mataram em nome da verdade que defendiam, em nome da certeza que tinham. Instituições religiosas mataram em nome de Deus, em defesa da sua suposta verdade.
Para essas igrejas, que têm a pretensão de terem seus ensinamentos fundamentados plenamente na verdade bíblica, todos os demais sistemas estão totalmente errados e serão rejeitados por Deus, condenados eternamente. Esses outros ouvirão a sentença: “nunca vos conheci”(Mt 7:23).
Seus adeptos se tornam fingidos. Sorriem para esses outros apenas com a intenção de atraí-los para a sua verdade. Agem como a mulher sedutora que tudo faz para conquistar apenas para mostrar o seu poder e evidenciar a fragilidade do outro. Uma vez seduzido o outro é submetido, usado, enganado. Nesse caso, de uma religião (igreja) com essas características de sedução, os adeptos submetidos são transformados em sedutores.
Na realidade tal instituição religiosa funciona como uma rede de prostituição: seduz e converte os submetidos em sedutores. Ela faz isso para manter a sua estrutura administrativa que é financiada pelos seus adeptos. Sua pregação não se fundamenta em verdades, mas na sua pretensão e sua interpretação do que seja verdade, isto é, o que ela entende por verdade divina.
Seus adeptos não são ensinados a amar e respeitar os outros, mas a seduzi-los com uma aparência de amizade e respeito.
Seus adeptos, uma vez foram seduzidos e submetidos não são estimulados a ler a Bíblia de forma livre, espontânea. Toda leitura passa a ser orientada pelo paradigma da instituição que se diz detentora da verdade. Não há liberdade de expressão, isto é, ninguém pode inovar, não pode expor novas ideias ou discordar abertamente do que lhe é apresentado ainda que intimamente perceba o disparate do discurso. Tornam-se intimidados porque temem ofender a Deus, perder a verdade ou enfrentar a rejeição dos pares.
Um recurso utilizado por instituições religiosas com esse perfil é considerar toda exposição pública, toda pregação emanada do púlpito como a palavra inconteste de Deus, ainda que o discurso seja obtuso, contraditório ou inútil por ser carente de qualquer sentido intelectual ou prático.
Instituições religiosas com esse perfil não admitem que os ensinamentos bíblicos sejam de caráter geral. Não fosse assim já teriam perdido o seu valor tendo em vista o longo tempo decorrido desde que foram escritos.  O foco dos ensinamentos bíblicos é o respeito que devemos pelos seres humanos e por Deus. Enquanto essas instituições colocam a Deus como exigindo dedicação cega e adoração continua dos Seus seguidores, procuram ocultar que o projetam como um Deus caprichoso, com características humanas de dominação e controle.
Quando Jesus reiterou que devemos amar a Deus com todas as nossas forças (Mt 2:37) entendo que Ele não se referiu à pessoa de Deus, mas aos Seus ensinamentos que têm como objetivos o bem-estar do ser humano. Amar a Deus é acatar o que Ele ensinou no que diz respeito aos relacionamentos humanos. Não é Deus que deve ser o foco, mas o bem-estar do ser humano. São os relacionamentos humanos que estão em jogo. É a necessidade de proteger a vida e a dignidade humana que levou Deus a Se pronunciar como sempre Se pronunciou. Profetas, juízes, apóstolos e o próprio Jesus foram enviados para ensinar o homem viver como ser humano e não para proteger a Deus. Foram enviados para ensinar a boa maneira do viver e não para centralizar a vida no culto a Deus.
Aliás, Jesus desabonou esse entendimento de um viver centrado na religião, na adoração a Deus, em detrimento dos bons relacionamentos, e defendeu que o homem deve centrar-se no respeito aos pais, aos irmãos e ao próximo (Mc 7: 9-12; Lc 10:25-37).
Concluo que se uma instituição religiosa tem a pretensão de ser a portadora da verdade, a única que entende corretamente a Bíblia e autorizada a falar em nome de Deus, deve ser olhada com suspeita. Ela pode ser a forma disfarçada de uma rede de submissão de pessoas, exploradora dos recursos financeiros dos seus adeptos e mantenedora de um  alto (e perigoso) nível de ignorância dos mesmos.
Antonio Sales     profesales@hotmail.com
Nova Andradina, 19 de maio de 2013.