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sexta-feira, 14 de junho de 2013

A VERDADE QUE EU QUERO

Decidi por escolher uma verdade após ter ouvido uma música em que o cantor dizia: “nós queremos a verdade e nada mais do que a verdade”.
Esse é um pensamento interessante. Realmente devemos optar pela verdade. Sou adepto dessa filosofia, mas confesso que a verdade que quero não é aquela pronta, inquestionável.
Muitas pessoas têm a concepção de que a verdade é única, é sempre a mesma, é algo que nos foi dado pronto. Entendem que devemos buscar somente essa verdade e que para isso temos que procurar alguém que a domine e no-la transmita.
Um problema que vejo nessa concepção é que ficamos reféns de alguém que, supostamente, tenha a verdade. E se esse alguém não for verdadeiro? E se ele estiver nos  “vendendo” uma verdade que não possui?
E se a “verdade” que as pessoas ou instituições nos apresentarem não for  verdade?
Diante dessas questões quero me aproximar da verdade, conviver com a verdade, mas aquela verdade que se obtém por aproximação. A que se obtém pela busca contínua e pela renovação das perspectivas. Estou falando da verdade que vai sendo construída. Algo como o conceito de limite em Matemática antes de ser definido plenamente o ponto de convergência.
É uma verdade que não é absoluta, que está em construção, que eu quase toco nela, mas que sempre me escapa. Aproximo-me dela, mas não a tenho. Vejo-a, mas não a agarro. Conheço-a, apaixono-me por ela, busco-a, mas não me aproprio dela.
É uma verdade quase inquestionável, mas não totalmente inquestionável. Quase pronta, mas em  constante construção.
Por que penso assim? Porque quero essa verdade que não é absoluta?
Porque a verdade absoluta é inquestionável, é intransigente. Quem pressupõe ter essa verdade plena se torna perigoso. Essa pessoa é capaz de ferir em nome da verdade, é capaz de matar os que se opõem à sua verdade absoluta.
Assim fizeram os judeus no tempo de Cristo. A pretensão da posse da verdade absoluta não lhes permitiu dialogar com o enviado de Deus. Quem quer correr o risco de perder a verdade absoluta? Quem quer negociar ou aceitar que se questione o inquestionável?
 Na Idade Média não foi diferente. Muitos morreram em nome da proteção da verdade, dessa sua qualidade inquestionável. Os homens da verdade absoluta não se permitiam serem questionados.
Hoje, conheço muitos que se tornam insuportáveis por julgarem ter alcançado a verdade em sua plenitude. São arrogantes, intolerantes para com a minha ignorância. Não suportam as minhas questões e querem inibir o meu livre pensar.
A verdade absoluta, por ser inquestionável é inibidora do crescimento intelectual. A posse dela faz cessar a busca. Quem supõe possui-la, para de crescer. Parar de crescer, para mim, é “envelhecer”, é apostar na morte. Estagnar é morrer.
A verdade que procuro é desafiadora, é portadora de vida intelectual, é divina  porque Deus é vida.
Confesso que não quero ter amigos incapazes de discutir as suas convicções. Tenho medo deles. Os que acreditam ter encontrado a verdade absoluta são perigosos. Fujo deles, porque fujo da morte anunciada.
Antonio Sales  profesales@hotmail.com

Nova Andradina, 14 de junho de 2013.