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sábado, 19 de outubro de 2013

O CULTO É LUGAR DE SILÊNCIO?



De vez em quando ouço ou leio sobre o comportamento no culto. Como minhas relações de amizade são com membros de igrejas tradicionais as indicações de leitura que recebo sobre o tema  também provém dessa fonte.
Digo isso para que o leitor possa localizar o lugar de onde falo, qual a minha referência. Essas leituras que faço e os comentários que ouço sempre apontam para a necessidade de uma postura  reflexiva, silenciosa durante o culto. Nas igrejas neopentecostais parece que essa é uma discussão superada.
Portanto, nas igrejas tradicionais ao entrar na igreja o adorador deve encontrar um ambiente envolto numa “atmosfera celestial”, com música suave e silêncio profundo, tudo preparado e preparando para uma adoração de submissão completa. Submissão a quem? Teoricamente a Deus, mas na prática veremos.
Vamos tecer agora algumas considerações a esse respeito.
Em primeiro lugar o pressuposto de que Deus está presente de forma especial na igreja, e requer silêncio, não parece muito plausível, pelas seguintes razões:
1.                      Jesus disse ä mulher samaritana (Jo 4) que  não é assim que acontece. Deus pode ser adorado em qualquer lugar, disse Ele. Nessa perspectiva a igreja é local de comunhão com os irmãos, isto é, de confraternização e aprendizado, e não se comunga no silêncio, não se confraterniza no isolamento, não se partilha no recolhimento. A igreja não é um mosteiro.
2.                      O que tenho observado é que muitas mensagens apresentadas à igreja em nome de Deus são, na realidade, produtos de mentes preconceituosas e mal preparadas. Se Deus estivesse presente haveria de orientar melhor esses discursos e, se está presente e não orienta é porque  não está exigindo atenção especial, isto é, não exige ser o foco da adoração. Nesse caso, Ele quer que aprendamos errando, debatendo, admoestando-nos mutuamente. Não se debate no silêncio.
Em segundo lugar penso que não se reflete sem uma provocação. A reflexão é produto do embate. A reflexão silenciosa ocorre após um momento de tensão, quando se necessita reorganizar as ideias. Logo, se queremos que o adorador permaneça em silêncio, devemos provocá-lo, desafiá-lo, intrigá-lo e não exigir silêncio como se a reflexão pudesse se decretada.
Como terceiro ponto de discussão entendo que o “decreto” do silêncio é uma forma de submissão, uma forma de tornar as pessoas frágeis, incapazes de se organizar e de apresentar discordância ao programa que lhes for apresentado. É o processo de transformação das pessoas em ovelhas, submissas, incapazes de reação, que seguem cegamente o pastor mesmo que caminhando para morte.
Vejo nesse discurso de respeito ao ambiente, ou presença de Deus, um resquício  de tempos passados quando as pessoas não podiam ter inciativas próprias para não por em risco o poder. É o processo de subjugação que, no meu entender, não agrada a Deus. O objetivo, segundo o meu entender, não é agradar a Deus, mas manter as pessoas sem ação e com profundos sentimentos de culpa.
Suponho que o leitor entendeu que não sou favorável à falta de ordem ou respeito a quem quer que seja, apenas entendo que ordem e respeito não são, necessariamente, sinônimos de silêncio total, reflexão decretada, proibição de comunicação com os irmãos. Há uma outra forma de ordem que não submete as pessoas, que não as culpabiliza e que não as imobiliza. Há a ordem do esclarecimento, da educação que aponta caminhos, educação libertadora (não é  imposta ou intimidatória).
O culto no meu entender pode ser silencioso, se a pessoa preferir, mas pode ser dinâmico para quem quiser opinar, discordar (não desrespeitar), dialogar, “trocar ideias”. Não deve ser tumultuado, mas pode ser dinâmico, provocativo.
Nova Andradina, 19  de outubro de 2013
Antonio Sales                                profesales@hotmail.com