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sábado, 2 de fevereiro de 2013

ONDE ESTÁ A VERDADE?



Em um texto anterior sobre o mesmo tema defendemos que verdade, especialmente a verdade religiosa,  é um axioma.  Aceitam-se alguns pressupostos como verdadeiros e a partir deles são construídos os dogmas, todos os ensinamentos.
Na minha experiência tenho observado que quando se pergunta a alguém onde está a verdade, essa verdade institucionalizada, religiosa, obtém sempre as mesmas respostas com pequenas variações insignificantes.
 Hoje a análise tem por base o diálogo de Jesus com a mulher samaritana junto ao poço de Jacó (Jo 4)
Pergunta: onde está a verdade?
Está na Bíblia responde espontaneamente qualquer pessoa que professa o cristianismo. Está no Corão diz um islâmico. Está na Torá responde um judeu ortodoxo.
Os adeptos dessas religiões, no que diz respeito a esse assunto, são menos afortunados do que a mulher samaritana que se encontrou com Jesus junto ao poço de Jacó. Quando o mestre lhe falou da água viva ela respondeu o que se esperava que respondesse: a água viva está neste poço que foi cavado por Jacó.
Implícito em sua fala estava a mensagem: Jacó é o nosso pai, e o homem aceito em nossa cultura como sendo uma autoridade; é o nosso ancestral. Se for assim, este poço cavado por ele, sob a orientação de Deus, tem a boa água, a água que faz bem ao corpo e à alma.
A resposta da mulher é equivalente à que damos hoje quando nos falam
sobre buscar a verdade. Dizemos que verdade  está no livro escrito pelos profetas (ou por um profeta)  e apóstolos. Livro escrito por aquele ou aqueles que nossa cultura aceita como autoridade(s), como ancestral espiritual.   Homens que aceitamos terem recebido a orientação divina.
Ela, porém, foi mais longe e disse: o poço é fundo e quem trouxe essa água para você?  Ela admitiu que a água viva não está ao alcance de qualquer um. É preciso ter instrumentos para tirá-la, isto é (no caso da verdade institucional), ter uma lente especial para ver a verdade, ter alguém que nos ensine. Precisamos de alguém que leia e nos explique o que pensaram esses ancestrais. O que dizem  os que a instituição  aceita como inspirados sobre o que escreveram?
Se você tem água onde ou como a conseguiu? Perguntou a mulher a Jesus.
É certo que se pode produzir a verdade, ou buscar em outra fonte, mas ela será uma verdade "pirata", uma "agua não pura" se não tiver o selo de qualidade expedido por uma instituição credenciada, por aquela instituição que acredito seja a credenciada. Posso produzir a minha verdade, mas ela somente será verdade se for aceita por outros, se for aclamada por uma comunidade, se encontrar respaldo social.
As instituições produzem, cada uma, a sua própria verdade. Elas são instrumentos sociais de produção de verdades, de definição do certo e do errado no seu próprio âmbito.  São criadas para atender certas necessidades humanas, inclusive a necessidade de uma definição de verdade.
Os indivíduos também produzem verdades; cada um a sua verdade, porém se não for respaldada será sempre pirata, sem selo de qualidade institucional. Os cientistas produzem verdades porque respaldados pela produção anterior de outros cientistas e pela comunidade de cientistas.
A samaritana compreendeu isso e o disse  para o mestre. Como conseguiste a agua viva se não tens como tira-la e o poço é fundo? Isto é, não há agua viva fora deste poço, e nem na superfície, e  onde estão os seus instrumentos para tirá-la? 
Hoje diríamos: com base em que dizes isso? Quais as razões lógicas ou institucionais para o seu discurso? Em que esse discurso se fundamenta?
Do ponto de vista da ciência dizemos: qual o seu referencial teórico? Respaldado em que ou em quem você fala? Suas observações foram conduzidas por qual referencial?
Voltando à mulher samaritana. Ela sabia que a verdade não está com qualquer um, sabia que para achar a verdade não basta ter o poço, e preciso ter instrumentos.
Onde quero chegar com o meu arrazoado? Quero dizer que não basta  dizer que verdade esta na Bíblia, no Corão ou na Torá, tem que fornecer instrumentos para buscá-la. É por isso que as religiões doutrinam, catequizam.
É preciso dizer quais os parâmetros usados pela instituição para qualificar a verdade.
A partir desse ponto de vista, a simples afirmação de que a verdade está na Bíblia ou em qualquer outro livro é carente de sentido. Ao sedento não basta dizer que água está no poço: é preciso tirá-la e oferecer.
Nova Andradina, 02 de fevereiro de 2013.
Antonio Sales         profesales@hotmail.com