De vez em quando ouço
ou leio sobre o comportamento no culto. Como minhas relações de amizade são com
membros de igrejas tradicionais as indicações de leitura que recebo sobre o
tema também provém dessa fonte.
Digo isso para que o
leitor possa localizar o lugar de onde falo, qual a minha referência. Essas
leituras que faço e os comentários que ouço sempre apontam para a necessidade
de uma postura reflexiva, silenciosa
durante o culto. Nas igrejas neopentecostais parece que essa é uma discussão
superada.
Portanto, nas igrejas
tradicionais ao entrar na igreja o adorador deve encontrar um ambiente envolto
numa “atmosfera celestial”, com música suave e silêncio profundo, tudo
preparado e preparando para uma adoração de submissão completa. Submissão a
quem? Teoricamente a Deus, mas na prática veremos.
Vamos tecer agora
algumas considerações a esse respeito.
Em primeiro lugar o
pressuposto de que Deus está presente de forma especial na igreja, e requer
silêncio, não parece muito plausível, pelas seguintes razões:
1.
Jesus disse ä mulher samaritana (Jo 4)
que não é assim que acontece. Deus pode
ser adorado em qualquer lugar, disse Ele. Nessa perspectiva a igreja é local de
comunhão com os irmãos, isto é, de confraternização e aprendizado, e não se
comunga no silêncio, não se confraterniza no isolamento, não se partilha no
recolhimento. A igreja não é um mosteiro.
2.
O que tenho observado é que muitas
mensagens apresentadas à igreja em nome de Deus são, na realidade, produtos de mentes
preconceituosas e mal preparadas. Se Deus estivesse presente haveria de orientar
melhor esses discursos e, se está presente e não orienta é porque não está exigindo atenção especial, isto é, não
exige ser o foco da adoração. Nesse caso, Ele quer que aprendamos errando, debatendo,
admoestando-nos mutuamente. Não se debate no silêncio.
Em segundo lugar penso
que não se reflete sem uma provocação. A reflexão é produto do embate. A
reflexão silenciosa ocorre após um momento de tensão, quando se necessita
reorganizar as ideias. Logo, se queremos que o adorador permaneça em silêncio,
devemos provocá-lo, desafiá-lo, intrigá-lo e não exigir silêncio como se a
reflexão pudesse se decretada.
Como terceiro ponto de
discussão entendo que o “decreto” do silêncio é uma forma de submissão, uma
forma de tornar as pessoas frágeis, incapazes de se organizar e de apresentar
discordância ao programa que lhes for apresentado. É o processo de
transformação das pessoas em ovelhas, submissas, incapazes de reação, que
seguem cegamente o pastor mesmo que caminhando para morte.
Vejo nesse discurso de
respeito ao ambiente, ou presença de Deus, um resquício de tempos passados quando as pessoas não
podiam ter inciativas próprias para não por em risco o poder. É o processo de
subjugação que, no meu entender, não agrada a Deus. O objetivo, segundo o meu
entender, não é agradar a Deus, mas manter as pessoas sem ação e com profundos
sentimentos de culpa.
Suponho que o leitor
entendeu que não sou favorável à falta de ordem ou respeito a quem quer que
seja, apenas entendo que ordem e respeito não são, necessariamente, sinônimos
de silêncio total, reflexão decretada, proibição de comunicação com os irmãos.
Há uma outra forma de ordem que não submete as pessoas, que não as culpabiliza
e que não as imobiliza. Há a ordem do esclarecimento, da educação que aponta
caminhos, educação libertadora (não é
imposta ou intimidatória).
O culto no meu entender
pode ser silencioso, se a pessoa preferir, mas pode ser dinâmico para quem
quiser opinar, discordar (não desrespeitar), dialogar, “trocar ideias”. Não
deve ser tumultuado, mas pode ser dinâmico, provocativo.
Nova Andradina, 19 de outubro de 2013
Antonio Sales
profesales@hotmail.com