Por vezes se diz que a igreja é uma instituição criada por Deus para
atender propósitos específicos da comunidade tais como: trabalho em conjunto,
ajuda financeira aos mais carentes, proteção alimentar, etc.
Penso que esta é uma visão muito restrita do papel de igreja. Também não
creio que Deus tenha criado a igreja como uma instituição para servir à
comunidade.
A igreja é criação humana para se proteger dos ataques pagãos e da perseguição
promovida por alguns grupos ou mandatários. É uma instituição criada para a
autoproteção. Nasceu para viver "fechada", voltada para si mesma,
para o isolamento.
Hoje temos dois grupos de igrejas ou denominações religiosas. Um grupo é
composto pelas igrejas tradicionais. Suas portas se abrem somente para fazer
prosélitos, angariar adeptos, mas não para receber ideias, para conviver com as
diferenças, para orientar a convivência tolerante.
Suas portas são fechadas no sentido de que ela (a igreja tradicional)
está voltada tão somente para o futuro, para a vida no além, longe das mazelas
da atualidade, numa cidade de ouro e cristal. Não se preocupa com o preparo dos
seus membros para o enfrentamento proativo dos problemas da vida atual:
empreendedorismo, aconselhamento, mediação de conflitos entre vizinhos ou
familiares, inserção responsável na vida pública, entre outras coisas que podem
e precisam ser desenvolvidas por pessoas íntegras e competentes. A
assertividade dos membros é cobrada, mas não estimulada ou orientada.
Outro grupo é composto pelas igrejas não conservadoras. O leque é amplo
variando do evangelho da prosperidade, passando pelas que são quase
conservadoras, até aquelas que parecem existir sem um propósito social
definido.
Dentre deste segundo grupo temos as igrejas que promovem assertividade
com um enfoque no egoísmo, na autopromoção financeira e social. O
pensamento está centrado nas “bênçãos” que se pode usufruir sendo assertivo. Temos
aquelas que, ao que parece, nem sequer pensam que o cristianismo existe
para ser “o sal da terra e luz do mundo”.
Nas igrejas tradicionais, ser o sal da terra é manter-se isolado para
evitar corromper-se. Para os “seguidores do evangelho da prosperidade”, ser o
sal da terra é mostrar que se pode ficar rico sendo evangélico. Para algumas igrejas,
ser o sal da terra é um jogo de palavras que ainda precisa ser esclarecido.
A igreja não foi criada por Deus. Ele nos chamou para sermos cristãos,
para estarmos no mundo, inseridos na comunidade. Ele não queria que saíssemos
do mundo (Jo 17:15-17), que nos isolássemos ou que nos transformássemos em
proselitistas, mas que levássemos para a comunidade um estilo de vida.
Antonio Sales
Campo Grande, 23 de junho de 2016.