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segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Deus contra si mesmo?


 Este texto é continuação do anterior cujo título é “Deus”.
Naquele texto supus que o Deus guerreiro e excludente do Antigo Testamento (AT) é uma invenção dos judeus. Apresentei algumas razões para isso. Essas razões são constituídas na diferença de comportamento entre esse judaico Deus e Jesus que Se apresentou como Seu representante legítimo.
Imagino que quando Jesus afirmou que Ele e o Pai eram um (Jo 14: 9,10 ) e quem vê a Mim vê o Pai estava querendo enfatizar a unidade no caráter de ambos. De igual modo suponho que Ele não teria Se confrontado com os fariseus se partilhasse do pensamento deles.
Hoje retomo essa questão de um Deus forjado pelos judeus com base em algumas contradições internas. Penso que Deus não pode ser contra Si mesmo.
Quando houve a divisão das tribos e as dez tribos do norte com capital em Samaria deixou de prestar obediência aos descendentes de Davi, os samaritanos  foram excluídos da amizade, do respeito e do direito de participar do culto no templo de Salomão com a anuência do Deus dos judeus. Jesus algum tempo depois reintegra esse povo começando o seu trabalho por uma mulher mal vista (Jo 4) até no seu próprio povoado. Parece que Ele quis mostrar que o pior samaritano não era pior do que o melhor judeu.
Ele não poupou elogio aos samaritanos.  No breve relato dos evangelhos vemo-Lo elogiando um ex-leproso samaritano (Lc 17) e a bondade de um viajante, também samaritano (Lc 10). Por que samaritano se a estória comportaria qualquer um?
No quinto livro da Torá vemos Deus excluindo os povos da comunhão com Ele e depois vemo-lo mandando Jonas pregar a um povo que não sabia distinguir a mão direita da esquerda (Jn 4:11) e inimigo dos judeus.
Como o povo judeu era exclusivista e procurou isolar-se do todos ao redor Deus o enviou ao cativeiro babilônico por setenta anos (cerca de três gerações) para que aprendesse a viver entre os outros (Dn 9).
A pergunta que fica é: como um Deus que exclui pode se preocupar com a inclusão? Estaria Deus agindo contra Si mesmo?
O povo judeu viu-se como peculiar, propriedade particular (Dt 7:6), e esqueceu-se que essa particularidade estava na responsabilidade de ir até os outros povos e incluí-los nas bênçãos celestiais. Quando Jesus expirou na cruz e o véu do santuário rasgou de alto a baixo (Mt 27:51) estava explicito o rompimento de Deus com os judeus, com aquele sistema fechado de culto, com aquela visão de divindade truculenta e excludente.
Ele não concordava com o que ensinavam sobre Ele.
Não consigo ver Jesus como o Deus do AT. Um Deus que estabelece um programa rígido e servil de adoração.
As questões que me importunam  são:
1.      Queria Deus que o povo fosse mantido sem criatividade para adorá-Lo? Nesse caso, onde estaria o livrearbítrio e a espontaneidade?
2.      Uma ovelha-homem não é igual a uma ovelha do gênero ovino. As duas devem seguir o pastor, mas,  com a mesma imbecilidade? Deus trataria a mim e a você com os mesmos critérios com que um pastor cuida do rebanho: vigiando cada passo e impedindo que “fujam” do caminho?
3.      Um pastor contenta-se com a lã, o leite e a carne das ovelhas. Elas são criadas para isso. Deus nos criou para sermos explorados por Ele? 
4.      Um pastor alegra-se com o simples lamber da mão por uma das suas ovelhas, num gesto simplório de gratidão. É o melhor que ela pode fazer. Sua limitação cerebral não lhe permite expressar-se de outra forma. Deus Se contentaria com um culto engessado, excessivamente formal? Um gesto programado, palavras repetidas são agradáveis a Deus (Mt 6:7)? Não haverá algo melhor que possamos oferecer? O que seria um culto racional (Rm 12:1)?
Essas questões fazem sentido na medida em que pensamos em que Deus nós servimos. Se é a um Deus truculento que servimos é melhor não correr riscos, e variar o culto é correr riscos. É melhor olhar o “programa impresso” porque um resvalo pode ser fatal. Se servimos um Deus sério, mas amigo, um culto racional faz sentido.
Nova Andradina 22 de agosto de 2011
Antonio Sales                                               profesales@hotmail.com

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