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sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Religião para a Adoração ou para a Vida?

Algumas religiões estão centradas na adoração, a saber, todo discurso, todo preparativo, toda instrução, enfim, tudo está voltado para a adoração. Cuidam de como se portar na “Casa de Deus”, como adorar, qual o traje apropriado e qual a conversa permitida na ”presença de Deus”. Esses são temas frequentemente abordados nos sermões e outras reuniões ou sessões de estudo. Esse é o enfoque dessa religião.
As questões contemporâneas, os relacionamentos familiares tumultuados, a profissionalização do jovem, a superação dos preconceitos, a saúde mental, as questões éticas e a decência (não a moda) dificilmente são temas abordados nos sermões e não entram em pauta nas discussões. Não é uma religião da vida e para a vida, porque não se preocupa com as coisas da vida.  
Meu amigo César Augusto disse que é uma religião que não sai dos joelhos. Ela não sobe para o coração e nem para o cérebro. Não impregna a vida, não estimula a ação, não promove a autoestima e não traz realizações pessoais. Tudo se “resolve” com o joelho.
Com esse perfil essa religião deixa de interferir na vida das pessoas, falha em transformar comportamentos, estreita a mente, produz hipocrisia, leva à indiferença para com as necessidades alheias e desconsideração para com as diferenças individuais.
A linguagem desenvolvida por essa religião é o espiritualês. Tudo na vida tem motivação espiritual (anjos do bem ou anjos do mal conduzem a vida), todos os problemas se “resolvem” pela oração (especialmente se o problema é do outro), Deus sempre “mostra” o caminho (até os caminhos errados que sempre tomamos?) e sempre responde as orações.
O problema, na fala dos adeptos dessa religião, é que por vezes (lê-se: raramente), Ele diz sim, por vezes (lê-se: quase sempre) diz não  e outras vezes manda esperar [por tempo indeterminado].
Há muita diferença entre o não definitivo e o espere se o tempo de espera é indeterminado?
Nessa perspectiva Deus,  na melhor das hipótese, responde um terço das orações. Para um terço delas Ele diz não e a outra terça parte Ele ignora. É uma religião em defesa de Deus porque sempre se encontra uma explicação para o comportamento dEle. É a adoração a um Deus que precisa ser defendido, mas se Ele precisa ser defendido  não há algo errado com Ele (ou com o adorador)? No livro de Juízes há o relato de que Gideão derrubou o altar de Baal e que todo o povo da aldeia se levantou contra ele e queriam a sua cabeça. Então Joás, o pai do ousado jovem, enfrentou a turba com essas sábias palavras: “Porém Joás disse a todos os que se puseram contra ele: Contendereis vós por Baal? livrá-lo-eis vós? qualquer que por ele contender, ainda esta manhã será morto: se é deus, por si mesmo contenda; pois derribaram o seu altar” (6:31).
Se Ele é Deus porque é necessário que O defendamos? Precisamos encontrar desculpas (ou culpados) porque Ele não responde certas orações?
Essas questões não fazem parte do espiritualês. Nessa língua a pergunta mais importante é: o que fizemos de errado na adoração para que Deus não nos ouça?
Mas o espiritualês não termina por aqui. O atrasado que perdeu o ônibus diz que foi Deus que quis evitar algum problema, o pregador que não prepara o sermão ora para que Deus o ilumine na hora de pregar e depois atribui  a Deus  todos os lapsos éticos e conceituais que comete.  Descaradamente afirmam: falei o que Deus quis que eu falasse. Ou então Deus me inspirou a falar isso.
Não seria melhor sair de casa mais cedo para chegar a tempo no ponto de ônibus do que ficar tentando ver a Deus onde Ele não está? Não seria melhor estudar para preparar um sermão que dignifique a Deus, ao pregador e ao público?
A religião judaica era uma religião de adoração. Toda vida do judeu, toda atividade social desse povo, toda religião judaica estava centrada no templo. Se os judeus colhiam pouco é porque não estavam sendo fiéis a Deus ou então era porque estavam trazendo oferta indevida ao templo.
Deus, através do profeta Jeremias condenou esse pensamento. O profeta registrou a seguinte ordem do Senhor:
Põe-te à porta da casa do Senhor, e proclama ali esta palavra, e dize: Ouvi a palavra do Senhor, todos de Judá, os que entrais por estas portas, para adorardes ao Senhor. Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Melhorai os vossos caminhos e as vossas obras, e vos farei habitar neste lugar. Não vos fieis em palavras falsas, dizendo: Templo do Senhor, templo do Senhor, templo do Senhor é este. Mas, se deveras melhorardes os vossos caminhos e as vossas obras, se deveras fizerdes juízo entre um homem e entre o seu companheiro, se não oprimirdes o estrangeiro, e o órfão, e a viúva, nem derramardes sangue inocente neste lugar, nem andardes após outros deuses, para vosso próprio mal, Eu vos farei habitar neste lugar, na terra que dei a vossos pais, de século em século”(Jer 7: 1-7).
A mensagem não deixa margem para especulação. Não era a adoração que garantiria a prosperidade do povo, mas a justiça, a ética, o apoio ao fraco, o respeito à vida e não praticar as violências e indecências que as outras religiões autorizavam e aplaudiam.
Ficou claro no texto que o templo, isto é, a adoração não traz garantias e que Deus prefere uma religião para a vida.
Nova Andradina 09/09/2011
Antonio Sales                             profesales@hotmail.com

4 comentários:

  1. Infelizmente a realidade da igreja, ou melhor das pessoas que formam a igreja, da liderança aos membros, é essa apontada no seu texto. Ainda hoje à tarde participei de uma reunião de professores da ES em que se discutia a pouca frequência dos alunos e o desestímulo no estudo. Quando se fala que é preciso analisar as dificuldades de relacionamento e o respeito ao outro; a necessidade de preparar o professor para discutir os temas a partir de questões que envolvam a vida prática; isso não é levado em consideração.
    Espritualizar tudo é uma forma de não assumir responsabilidades individuais e coletivas.

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  2. Olá amigo!
    Analisemos o fato metaforicamente;
    1. Pensemos em uma viagem a um lugar não democrático e onde que há apenas um restaurante conduzido por pessoas sem conhecimentos nutricionais e sem habilidades culinárias. O que acontece?
    Ou você come o que ele oferece ou perece de fome.
    2. Imagine que a comida oferecida por esses restaurante é sofrível. Sem qualidades nutritivas e sem um tempero apropriado que realce o sabor. O que pode ser feito?
    Ou você come, ou perece de fome e ainda é denunciado por desrespeito ao regime que instituiu aquele restaurante e indicou aquelas pessoas para gerenciá-lo.
    3. Aqueles funcionários do restaurante nada farão para melhorar porque estão garantidos pelos poder dominante. E você?
    Ou come, ou perece de fome e ainda é denunciado por desrespeito ao regime que instituiu aquele restaurante e indicou aquelas pessoas para gerenciá-lo. A outra opção é tentar sair o mais rápido possível desse país.
    4. Você não tem a menor importância para aquele restaurante. Ele não tem concorrente e você não tem opção. Se você ficar desnutrido será tratado por um ”psiquiatra” que o declarará rebelde ao sistema por ter recusado o alimento.
    O que fazer? É possível propor alternativas?

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  3. A ênfase na "adoração" só causará os efeitos descritos neste texto se não conhecermos o conceito correto de adoração. Se pensarmos que adoração é um ritual, o texto é verdadeiro; mas nada pode estar mais distante da verdade...

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  4. Olá Levi!
    Poderia concluir o seu pensamento sobre adoração ou religião para a adoração? Explicitando o que pensa a respeito talvez possamos dialogar.
    Obrigado por opinar.
    Este espaço é para isso, é para o debate.

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