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sexta-feira, 12 de julho de 2013

A JUSTIÇA DE DEUS


Ao olhar ao redor vemos a dor em suas mais variadas formas (frustração, depressão, acidentes fatais, acidentes com perdas parciais irreparáveis, abandono de amigos, abusos de crianças, doenças que minam as esperanças e cobrem a vida de luto apenas em pensar na sua possibilidade, miséria e penúria, corrupção, alastramento da drogadiçao, traição, cerceamento de liberdade através de cárcere privado ou ameaças, entre tantos outros). Por outro lado vemos também opulência,  festas regadas a "vinho" caro, jantares suntuosos, iates de luxo,  latifúndios intermináveis,  exuberância em saúde,  felicidade estampada em rostos sorridentes e mais um indeterminado número de fatores que consideramos positivos ou sonhos de todos  nas mãos de apenas alguns
Essa constatações levantam uma questão importante: existe justiça no mundo? Não estou pensando na justiça humana, naquela que emana dos tribunais. Penso na justiça que genericamente chamamos de justiça divina ou justiça da natureza.
Na Bíblia essa questão é levantada nos livros de Jó e Salmos. O perverso prospera (nem sempre só ele) e o justo sofre (também nem sempre só o justo sofre). Esse fato de um justo sofrer e um perverso prosperar levou  Jó a dizer que a vida é injusta.
Mas é nesse "nem só" que reside o problema. É que parece não existir uma lógica na distribuição dos males e dos bens. Se não há uma lógica não há como se prevenir, não há como programar uma vida sem dor e não há como julgar alguém pela presença ou ausência de dor. Parece que não há um controle, que não ha um tribunal imparcial, que a luta pelo bem (ausência de dor) é uma luta sem tréguas e sem previsão de sucesso. Parece que os males da vida caem por acaso sobre alguém e que os bens que chegam não trazem o prenuncio de ser uma recompensa.
Voltei-me, e vi, debaixo do sol, que não é dos ligeiros a carreira, nem dos valentes a peleja, nem tão-pouco dos sábios o pão, nem ainda dos prudentes a riqueza, nem dos entendidos o favor, mas que o tempo e a sorte pertencem a todos” ( Ec 9:11).
É neste ponto do problema que ocorrem as multifurcações do caminho. Há alguns pontos de partida para a análise da situação:
Um deles é pressupor que Deus é impotente para governar o mundo. Esse ponto de vista parece não ser aceitável para a maioria das pessoas e Deus mesmo o refuta em Jó, mas um escritor judeu, após ler Kushner, afirmou: “Se é isso o que Deus é, por que Ele não renuncia e deixa alguém mais competente ocupar o seu lugar?”.
Outro ponto de vista é supor que a justiça de Deus supera o Seu poder. Esse ponto requer mais esclarecimentos: a justiça de Deis estaria na  sua capacidade  de imprimir em nós o sentimento  de que deve existir justiça no  mundo, que devemos lutar por justiça, que devemos diminuir as desigualdades, combater a dor e defender o bem –estar.
Um terceiro ponto de vista é o da fuga da realidade presente e construir um imaginário mundo de paz. Admite-se a impossibilidade de mudar o presente passa-se a viver sonhando com um mundo naturalmente justo no futuro; mundo onde Deus exercerá o Seu poder de controle sobre os seres humanos eliminando os injustos e recompensando os justos. É justiça por eliminação, por coerção, por recompensa.
Considero este terceiro ponto de vista como fuga da realidade porque estimula o conformismo, a aceitação "pacifica" (com o sentido de passividade) dos males, a indisposição para a luta (luta entendida como busca, elaboração de propostas,  tentativas). Essa perspectiva estimula uma aceitação hipócrita da realidade por muitos e a aceitação inconsequente, covarde, por outros. Essa doutrina estimula a nulidade individual e o esfacelamento das instituições porque propõe que cada um viva por si, salve-se como puder ou que simplesmente se submeta e aceite o seu "karma", a sua desventura de ter nascido aqui. As igrejas que pregam curas e prosperidade pertencem também este grupo porque ignoram as injustiças sociais e estimulam a negociata com Deus e a busca por um mediador que saiba domar a divindade.
Sobre o segundo ponto, Yancey escreveu que o rabino Kushner, após a morte do filho, teria dito que "Deus enfrenta dificuldades  para manter o caos sob controle" e acrescenta que  Ele é "um Deus de justiça, não de poder".
Curioso é que nos últimos capítulos do livro de Jó (Jó 38-41), Deus faz Sua defesa, mas Ele defende o seu direito de ficar “calado”, isto é, de não Se explicar. Deus descreve longamente o Seu poder para Jó, mas não disse por que não o usou em benefício do seu servo. Não diz por que viu o sofrimento de Jó e não fez nada tendo todo poder à sua disposição. Ele apenas diz que nada sabemos.
Um quarto ponto de vista e que me parece mais plausível é que Deus quer construir um mundo justo, mas não pela força, pelo cerceamento da liberdade. Essa justiça não deve ser imposta ou praticada apenas por que Deus ordenou. Ele permite que todas essa coisas nos advenha para que aprendamos a administrar os conflitos, conviver com as diferenças, lutar pela justiça, exigir direitos e entender que o outro também tem direitos, inclusive o de esperar que cumpramos os nossos deveres. Deus não quer um mundo de justiça retributiva ou de punição, quer uma justiça de equidade.
A justiça de equidade é construída e Ele quer que a construamos. O mundo está sendo administrado por nós e a “Nova Terra” de que fala o Apocalipse será dos que aprenderem a viver em equidade..
Campo Grande, 11 de julho de 2013
Antonio Sales              profeslaes@hotmail.com
Citações extraídas de:
YANCEY, Philip. Decepcionado com Deus. São Paulo: Mundo Cristão, 2004, p. 187.








domingo, 7 de julho de 2013

O CÉU É PARA OS OUSADOS



Céu, neste texto, tanto pode significar o lugar destinado aos salvos na perspectiva cristã, como pode significar felicidade ou sucesso. Por outro lado a palavra erro não tem nenhuma conotação de estupidez, desafeto, temeridade, abuso; pelo contrário, erro sempre indicará o resultado de dum projeto que falhou, uma boa intenção que não alcançou o objetivo, uma ajuda que foi mal interpretada ou uma tentativa fracassada.  Significará que a pessoa se aventurou por algo que tinha  grande  probabilidade de dar certo, mas  que pela “lei Murphy” deu errado.
Após essa introdução que julgo fundamental para que se entenda o texto a seguir comecemos as considerações sobre duas parábolas de Jesus: as parábolas da ovelha perdida e do filho pródigo (Lc 15).
A ovelha perdida que, no nosso entender, não foi rebelde, que apenas se  distraiu buscando novas pastagens e testando novos caminhos, foi buscada pelo pastor que convida amigos para uma festa. Se a parábola tivesse sido encerrada nesse ponto ficaríamos com a impressão de que o pastor buscou-a com finalidade comercial ou por compaixão. Ele não queria ter prejuízo ou então já estivesse se afeiçoado tanto ao rebanho que faria qualquer sacrífico para resgatar alguma ovelha.
Felizmente o texto tem um versículo a mais. Jesus disse: Digo-vos, que assim haverá alegria no céu, por um pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento”(Lc 15:7).
Por que mais alegria por um pecador que se arrepende? Os que não erram não tem valor? Há um estímulo ao erro? Sim, é isso mesmo. O céu se alegra com os ousados, com os que se arriscam. Ele espera que saiamos do comodismo,  que busquemos novos “campos” quando os atuais estão “ ressequidos”, estão já sem vida,  quando não oferecem mais perspectiva. Quando permanecer é deixar de viver em plenitude somos instados a sair.
Observem que a ovelha não recebeu reprimenda. Pelo contrário, tornou-se motivo de alegria. O pastor da parábola é um pai que se alegra com um filho ousado, com o filho que busca alternativas. Erro não é problema para o céu, é motivo de satisfação, de festa. O céu não se alegra com quem não ousa, com quem não tem autonomia, com quem espera de cabeça baixa que outros ditem as regras, com os que pisam cegamente  no rastro do líder.
Outra parábola é a do filho pródigo. O jovem saiu de casa porque não aguentava mais as imposições do irmão e a complacência do pai. O irmão, infeliz, causava desconforto em toda a família, procurava inutilizar as ordens do pai e dificultar as ações do mais novo.
Entre permanecer inútil e arriscar-se por novos campos dos negócios ou da agricultura, optou pela segunda opção. A inexperiência e o desejo de mostrar a sua rebeldia para com as imposições do irmão levaram o jovem a cercar-se de amigos que vendo a sua ingenuidade o conduziram pelo mau caminho. Tendo se perdido ele finalmente voltou para casa e foi recebido com alegria. Entre um filho perdido dentro de casa e o outro perdido fora de casa, o pai preferiu o segundo. Ele ousou, errou, aprendeu e voltou pronto para viver feliz em casa.
A felicidade pode estar mais perto dos que se arriscam.
Antonio Sales     profesales@hotmail..com
Nova Andradina, 07 de julho de 2013.