Tenho
ouvido "educadores" apresentarem receitas infalíveis para educar
filhos (dos outros).
Normalmente
são pessoas que não têm filhos e por isso pensam que os pais não
"programam" os seus filhos para serem como esses professores querem,
porque (os pais) são mal intencionados. Esses pais, na concepção desses
pretensos educadores, são felizes por terem
filhos trabalhosos.
Como
esses "educadores", normalmente, são bem falantes e, nas igrejas
evangélicas, ocupam o púlpito com frequência eles causam um prejuízo
incalculável em termos de produzir culpa e baixa autoestima nos pais.
Qual a
receita deles?
1.Ensina
a criança no caminho em que deve andar que ela seguira invariavelmente o
caminho indicado.
2.Estude
a Bíblia diariamente com seu filho que
ele crescerá temente a Deus.
3. Ore
diariamente como seu filho que ele nunca errará.
4.Leve- o
para a igreja regularmente que ele será um cristão exemplar.
Há
algumas outras prescrições, mas essas mostram o teor da receita. Penso que o leitor já consegue ter uma ideia do receituário desses "educadores".
Penso que
essa receita é verdadeiramente equivocada. Ela é infalível na sua proposta de
produzir culpa sem ajudar em nada. São mentiras pregadas como se fossem
verdades. Como as igrejas são compostas por ovelhas (pior ainda: composta por seres
proibidos de pensar) elas são aceitas sem questionar e o marido ainda olha para
a mulher e diz : "não te falei que você não educou os nossos filhos como
devia? É tudo tão simples e você não deu conta".
Hoje eu
entendo a minha filha quando ela diz que as igrejas evangélicas têm a
particularidades de produzir distúrbios mentais nas pessoas, especialmente nas
mulheres. Ela é professora e saúde
mental, pesquisadora e tem acompanhado estágios de acadêmicos em centros de
tratamento psiquiátricos. Ela afirma que a maioria das mulheres em tratamento são evangélicas.
Vamos
analisar as propostas dos
"educadores"/pregadores. Mas vamos deixar essa questão de culpa para
os pesquisadores em saúde mental e nos concentrar nas receitas infalíveis dos
pregadores.
1.
Essa afirmação de que o jovem seguirá para sempre o
caminho que lhe foi ensinado não leva em conta as escolhas pessoais, o livre
arbítrio.
Há
pessoas determinadas desde a infância e que resistem toda e qualquer
orientação. Há aquelas que são "moldáveis", educáveis, más há as que
são apenas controláveis enquanto pequenas. Temos visto famílias com quatro ou
cinco filhos, todos educados, pessoas de bem, exceto um. Sobre esse os pais se
perguntam: " onde errei? Será que errei em 20% das orientações que dei, ou
das ações que pratiquei em família, e a natureza caprichosa canalizou todas
para um filho só?"
Esses
pregadores esquecem que eles mesmos pregam que Deus criou os anjos perfeitos e
um deles, Lúcifer, se desviou e levou consigo a terça parte dos anjos (Ap 12).
Porque eles não levam, essa receita infalível para Deus?
2.
Dependendo do uso que se faz da Bíblia ela mais atrapalha do que ajuda. Pode
produzir hipócritas (Mt 23 ) e santarrões renegados por Deus (Lc 19). Esses
"educadores", por certo, preferem os hipócritas aos pensantes.
A Bíblia não
é um manual, ela é um guia de orientações nem sempre específicas. Ela nem
poderia ser específica uma vez que foi escrita para servir para todas as épocas. Tratar de casos específicos torná-la-ia
obsoleta em pouco tempo. Cada época tem seus dilemas, seu conflitos próprios,
suas alternativas particulares . Cada civilização tem suas regras não
necessariamente boas ou más, mas funcionais. Elas não precisam de regras
específicas, mas de orientação para corrigir rumos. O cristianismo histórico
percebeu isso. Percebeu que usar um único livro como regra produz desvios,
radicalismos, retrocesso intelectual. Os fundamentalistas são pessoas (ou
povos) de um livro só.
Dependendo
de como se lê a Bíblia torna-se uma chatice para os jovens. Ela perde o brilho
quando lida com os olhares de um moralista. Perde a graça quando ensinada como
regra de conduta para os outros, como um manual para disciplinar os
filhos, como diretriz para provar que os
outros estão errados e como "verdade" absoluta para acobertar os meus erros.
A esses
pseudos educadores tenho vontade de perguntar: "por que você não disse
isso para Deus quando Ele criou Adão e Eva? Talvez Ele tivesse evitado que o
pecado entrasse no mundo." Ele não deve ter lido a Bíblia para Eva.
3.Creio
que esse "educador" nunca leu
o livro de Gênesis (Gn 3). O diálogo diário com Deus não saciou a
curiosidade de Eva, não fortaleceu o caráter de Adão e não evitou que nossos
primeiros pais provassem da "droga".
Esses
pregadores leem na Bíblia somente o que
lhes interessa e podem usar para produzir culpa nas "ovelhas".
A religião deles se nutre da culpa.
4. Levar
o filho para a igreja, orar com ele, ler a Bíblia com ele, são medidas
salutares, mas que não garantem o resultado proposto pelo pregador.
Ao levar
o filho para a igreja devo orienta-lo a não crer em tudo que é pregado lá? Devo ensina-lo
a filtrar o que ouve? Devo orienta-lo a confrontar a pregação com a lógica?
Devo contrapor o que é ensinado com a experiência? Devo levá-lo à Bíblia para
se defender da culpa quer o pregador lança sobre ele?
A igreja
forma as pessoas para quê? Para a submissão cega? Para viver neste mundo com dignidade ou para passar por
este mundo sonhando apenas com a eternidade? Para contribuir enquanto pessoa, cidadão,
ou apenas com os dízimos e ofertas?
Enfim, do
modo como a igreja é conduzida, do modo
como o membros são ensinados, com o nível de sermão que é pregado, etc., o que os
nossos filhos ganham quando vão à igreja?
Pense
nisso e responda para si mesmo.
Nova
Andradina, abril de 2012
Antonio
Sales profesales@hotmail.com
Olá,penso que a Bíblia é um livro complexo. Deve ser estudado, compreendido e bem interpretado. O estudo bíblico não deve ser singular,é importante ouvir, refletir e opinar. A interpretação deve ser compartilhada, discutida e repassada, sem agressão moralista, sem manipulação,sem intenção de amedrontar,intimidar, culpar, impor regras, ditar o que é certo ou errado. Acredito não ser esse o papel da igreja. Quem busca uma igreja espera encontrar consolo, luz, oração, ação, respostas, caminhos. Penso que nesse caminho não deve haver culpas ou culpados. Penso, que o caminho que nossos filhos buscam na igreja não é o de imposição crucial do certo, errado ou do pecado, mas caminhos orientados, pois estão num processo de crescimento espiritual, de encontro consigo mesmo. Penso assim.
ResponderExcluirBeijos guri.
Também penso assim, Guria.
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