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segunda-feira, 18 de março de 2013

OS PACIFICADORES




Jesus no sermão da montanha afirmou que os pacificadores são o mais felizes(Mt 5:9). Por muito tempo não  entendi o que significa ser pacificador. Alguma coisa começou ficar mais clara após refletir em um artigo de Kanitz sobre violência simétrica. Penso que entendi melhor o que significa ser pacificador após ler este texto.
A frase popular de que violência gera violência só faz sentido quando se tem em mente a violência desordenada, assimétrica, que se vivencia no trânsito, que se encontra no contexto da marginalidade,  presente nas famílias  desordenadas.  Essa é também chamada violência selvagem.
Há violências que não são selvagens, que são controladas, que são necessárias ou não conseguimos viver sem ela.
Tenho pensado que viver é em si um ato de violência. Sacrificamos animais para sobreviver,  cortamos plantas para comer,  matamos insetos para nos proteger, nos estressamos para superar obstáculos, temos angústia quando  algo não sai tão bem quanto queremos e desalojamos do comodismo para produzir.
 Para entender essa problemática convém destacar que há a violência simétrica e a violência assimétrica, com salientou Kanitz. Uma é ordenada e a outra é desordenada. A violência simétrica, ordenada, não é geradora de violência. Ela organiza a vida da pessoa, e pessoas organizadas não violentam.
A violência simétrica ocorre nos tribunais  quando dois advogados se enfrentam na defesa e acusação do réu. São  profissionais de mesma competência, mesma formação, mesmo preparo intelectual e conhecimento de leis que se enfrentam. Também ocorre nos rings onde dois profissionais de mesmo preparo se enfrentam. No futebol os onze jogadores recebem treinamentos equivalentes, aprendem a organizar a queda, desviar-se do golpe, protegerem o rosto e conter a raiva, etc. Claro que há exceção, mas aqui estamos tratando dos casos gerais.
Outra característica da violência simétrica é que ela tem um espaço  reservado para ocorrer. Fora daquele espaço os profissionais são amigos, bons vizinhos, tomam café juntos. Enfrentam-se ferozmente no espaço reservado para  isso, mas esquecem o a fúria quando saem de lá.
Uma terceira característica é que ela tem um tempo para ocorrer. Esse tempo é anunciado com antecedência permitindo que os profissionais se preparem, intelectual, física ou emocional para o embate. Terminados o tempo quem perdeu, perdeu e quem ganhou, ganhou. O certo é que a luta acaba  quando acaba o tempo.
Mas há uma quarta característica:  a presença de um árbitro, de alguém que intervém quando há exageros, quando um corre o perigo de não suportar o embate ou ser seriamente prejudicado pelo outro.
O árbitro contribui  fortemente para que a violência seja simétrica, para que um não exagere em seu poder sobre o outro.
E aqui que entra a figura do pacificador.
 Viver é um ato de violência, como já dissemos. É uma violência continua. O estresse e a angustia são fatores de progresso pessoal. O sacrifício de animais para alimentação, o polimento de grãos, o corte e cozimento de vegetais  são atos de violência que garantem a nossa sobrevivência.
Um pacificador é uma pessoa que ameniza essa violência tornando-a mais próxima de uma violência simétrica, controlada. Quem luta pela conservação do meio ambiente é um pacificador.
Viver com outro ser humano é um constante embate, muitas veze marcado pela assimetria. Pacificador é aquele que faz a mediação para que a simetria se estabeleça.
É um pacificador aquele que faz palestra sobre relações familiares orientando sobre como diminuir os conflitos. Pacificador é o que denuncia abusos para que alguém com autoridade imponha a ordem e proteja o mais fraco.
Antonio Sales                         profesales@hotmail.com

Nova Andradina, 18 de março de 2013

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