Antes de postar o primeiro texto
sobre esse tema enviei-o a um colega para a suas críticas. O que recebi merece
ser publicado. Não cito o seu nome porque não pedi a permissão para isso.
Portanto, assumo a responsabilidade pelo texto que segue cujas palavras são
dele.
Uzá não fazia parte do poder
sacerdotal. O que ele estava fazendo era um rompimento com a tradição; sua
iniciativa mostrava outro caminho, apontava para possíveis mudanças. Os
sacerdotes se viram ameaçados e fizeram um registro escrito que consolidava a
primazia e exclusividade deles em manusear as coisas divinas.
No velho testamento o que
percebemos é uma apropriação do sagrado para manipular, dominar o povo. É a
privatização da religião. Deus não concordava com isso e mandou Cristo para
romper com essa prática corrupta. Ele falou duramente com os escribas e
fariseus; não desculpou aqueles que se serviam da obra.
Naquela experiência da oferta da viúva
a aplicação que usualmente se faz dela é
distorcida. Cristo estava no templo, condenando a opulência da liderança que
usurpava a oferta das pessoas que ofertavam a Deus. Muitos, inclusive, traziam
o último centavo. Eram pobres explorados pelos que estavam no poder.
Paulo, pessoa honesta, não se
utilizou do seu chamado para viver sem trabalhar e produzir. Ele deu o exemplo
de não ser pesado, de não usar os recursos da igreja para benefício dele. E
quando fez campanhas por ofertas foi com objetivo filantrópico, para ajudar os
pobres, socorrer pessoas pela tragédia da fome que se alastrava.
As Igrejas ditas cristãs se
apegam no modelo concentrador e explorador do VT e fazem terrorismo sobre as
pessoas. Falam da salvação em Cristo, mas o foco está na manutenção do seu status quo. Apegam-se a um modelo que
foi claramente condenado por Deus. São como pastores para os quais as ovelhas
são "valorizadas" apenas quando deixam a lã nas mãos deles.
Privatizam a "verdade"; só eles tem o poder e a autoridade de lidar
com as coisas sagradas.
Todas essas igrejas
contemporâneas conservaram muitos dos ritos da igreja majoritária e secular. A
sacralidade do altar, os discursos obtusos em nome de Deus e os recursos
financeiros para patrocinar uma organização pesada e, por essa razão, de manutenção
muito cara. Somente um grupo iluminado tem o direito de dizer qual será o nosso
destino; e nós sabemos como isso tem
ocorrido. Amedrontam as pessoas assim como a igreja dominante no passado fazia: excomungam, classificam como hereges e
só não matam porque a sociedade não tolera mais isso. Pregam que Cristo
liberta, mas usam discursos pouco disfarçados para escravizar as pessoas.
Nas últimas duas décadas a
proliferação de ministérios evangélicos tem desmascarado as igrejas
tradicionais. Mostram várias coisas: o interesse material, um semianalfabeto
abre um ministério, reúne milhares de fiéis, e mostra que pode fazer o
que esses "iluminados" dizem que só eles podem fazer.
Algumas igrejas evangélicas
tradicionais mantêm uma série de dogmas da igreja que condenam e cujo líder denunciam
como a besta apocalíptica. Criam numerosos cargos que para ocupa-los é preciso
ser dizimista porque assim conseguem forçar um maior número de pessoas a
dizimarem; criam um sistema de lavagem cerebral com vídeos sensacionalistas
veiculados no horário nobre do programa de culto para comover e colocar medo
naqueles que não dizimam. Fazem o mesmo que alguns líderes neopentecostais,
carimbados pela sociedade, apenas de forma mais sutil, sem publicidade. Colocam
leigos pressionando outros leigos para dar o dinheiro dizendo que se não o fizerem
Deus o não vai abençoar a sua vida; não herdarão salvação.
A suposta benção do dízimo
acontece porque pessoas que não se organizavam para administrar entradas e
saídas passam a fazê-lo quando têm que
dizimar.
Voltando ao caso de Uzá, penso
que ele teve um infarto cardíaco fulminante quando viu que a arca pendeu para
cair. Isso ocorreu pela emoção negativa de ver o móvel que simbolizava a
presença de Deus ir ao chão. O mal súbito foi o resultado de uma educação
repressora e não libertadora. Com a morte súbita dele, quem se encarregou de
fazer a narrativa registrou que foi punição Divina.
Penso que nem tudo que está na
Bíblia foi inspirado. Aquela parte do texto Bíblico que diz: "Toda
escritura inspirada por Deus é útil para..." (2Tm 4:16) é traduzida como: "Toda a escritura é
inspirada por Deus" para dizer que uma
vez que está registrado na Bíblia aplica-se porque que é a Escritura.
Tantas histórias, tantas
questões.
Antonio Sales profesales@hotmail.com
Nova Andradina, 21 de abril de
2013.