Quando, após avaliar
determinado discurso religioso (sermão) proferido em público, se comenta com alguém sobre a impropriedade
de tal sermão ouve-se, invariavelmente, a afirmação de que não se deve proceder desse modo porque
mesmo um sermão superficial, sobre um assunto supérfluo, sem ideias novas, fundamentado
em ideias preconcebidas, descontextualizado, acusador ou alarmista pode produzir bons resultados.
Dizem que vez ou outra alguma pessoa é levada à conversão por meio de um desses
sermões porque o Espírito Santo atua na
vida dela. É o Espírito Santo,
dizem, e não o sermão que produz os
resultados, logo, não há porque avaliar o discurso ou classificá-lo como
próprio ou impróprio.
Se mesmo o pior sermão
pode salvar uma vida não há razão para se preocupar com a sua qualidade, argumentam
eles.
Da nossa parte não
temos dúvidas de que o Espírito Santo pode transformar pedras em pães (Mt 4: 3
), transformar pedras em filhos de Abraão ( Mt 3:9), fazer uma jumenta falar (
Nm 22:28) ou acalmar uma tempestade (Lc
8:24). No entanto, parece que ele não tem tido sucesso em transformar
pregadores medíocres em bons pregadores. Não tem conseguido convencer aos
pregadores de que os ouvintes merecem respeito. Se o ouvinte merece respeito o
sermão deve ser bem preparado, bem fundamentado.
Se é verdade que Deus
falou por meio da jumenta de Balaão é possível que fale por meio de um desses
pregadores impróprios, porém, algum desses pregadores aceita ser chamado de
“jumenta de Balaão”? Algum deles aceita
estar fazendo o papel daquele animal?
Sermão não é para
“converter”, é para orientar, para apontar os caminhos de um bom relacionamento
com Deus e com os homens. Converter é papel de outro.
Um pregador que se
contenta com o resultado tão medíocre de ser útil uma vez ou outra, para uma ou
outra pessoa, talvez pertença mesmo à categoria dos asininos, porque alguém
consciente, com preparo para o que faz, acha um descalabro atingir tão pouca
gente e de forma tão incerta. É correto “sacrificar” dezenas só porque,
casualmente, um ou outro se salva?
Talvez alguma pessoa vá
à igreja para passar tempo ou fugir da
rotina. Para essa pessoa qualquer sermão serve porque ela não foi para ouvi-lo,
não foi em busca de algo produtivo ou duradouro. No entanto, para aqueles que
vão em busca de saciar a sede espiritual, enriquecer o intelecto, ampliar os
seus conhecimento sobre a Bíblia ou sobre aplicações da Bíblia à vida moderna,
não é qualquer sermão que serve.
Não é admissível, com
tanto conhecimento à nossa disposição, ainda ficar repetindo o que se ouviu no
passado distante, ou falando o já muitas
vezes falado. As pessoas que não estão em coma querem crescer, ver ideias
novas, ser esclarecidas, ser desafiadas
a pensar. Querem algo produtivo, produto de estudo e reflexão.
Uma afirmação feita em
um sermão deve ser justificada pela lógica, pela tradição ou pelos escritos.
Ela nunca deve ser uma frase solta. Se for uma frase pronta, obtida de outro,
deve-se dizer a fonte e justificar porque está sendo usada naquele contexto.
Isso é respeitar o ouvinte e mostrar-lhe como se respeita os outros.
O tempo que uma pessoa
passa na igreja deveria ser mais bem aproveitado com discursos e debates
produtivos, esclarecedores. As frases de efeito devem ser justificadas, as
ilustrações não podem ser infantilizantes, as acusações devem ser bem definidas
e direcionadas ao objeto, e não sujeito, e o alarmismo deve ser evitado.
Deve-se atacar o pecado, mas não o pecador. As contradições devem ser evitadas
e a ingenuidade deve ceder lugar à profissionalização.
Isso é o que pensamos.
Antonio Sales
Nova Andradina, 06 e
abril de 2013.
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