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domingo, 7 de abril de 2013

DISCURSOS IMPRÓPRIOS



Quando, após avaliar determinado discurso religioso (sermão) proferido em público,  se comenta com alguém sobre a impropriedade de tal sermão ouve-se, invariavelmente, a afirmação  de que não se deve proceder desse modo porque mesmo um sermão superficial, sobre um assunto supérfluo, sem ideias novas, fundamentado em ideias preconcebidas, descontextualizado, acusador ou  alarmista pode produzir bons resultados. Dizem que vez ou outra alguma pessoa é levada à conversão por meio de um desses sermões porque  o Espírito Santo atua na vida  dela. É o Espírito Santo, dizem,  e não o sermão que produz os resultados, logo, não há porque avaliar o discurso ou classificá-lo como próprio ou impróprio.
Se mesmo o pior sermão pode salvar uma vida não há razão para se preocupar com a sua qualidade, argumentam eles.
Da nossa parte não temos dúvidas de que o Espírito Santo pode transformar pedras em pães (Mt 4: 3 ), transformar pedras em filhos de Abraão ( Mt 3:9), fazer uma jumenta falar ( Nm 22:28) ou  acalmar uma tempestade (Lc 8:24). No entanto, parece que ele não tem tido sucesso em transformar pregadores medíocres em bons pregadores. Não tem conseguido convencer aos pregadores de que os ouvintes merecem respeito. Se o ouvinte merece respeito o sermão deve ser bem preparado, bem fundamentado.
Se é verdade que Deus falou por meio da jumenta de Balaão é possível que fale por meio de um desses pregadores impróprios, porém, algum desses pregadores aceita ser chamado de “jumenta de Balaão”? Algum deles  aceita estar fazendo o papel daquele animal?
Sermão não é para “converter”, é para orientar, para apontar os caminhos de um bom relacionamento com Deus e com os homens. Converter é papel de outro.
Um pregador que se contenta com o resultado tão medíocre de ser útil uma vez ou outra, para uma ou outra pessoa, talvez pertença mesmo à categoria dos asininos, porque alguém consciente, com preparo para o que faz, acha um descalabro atingir tão pouca gente e de forma tão incerta. É correto “sacrificar” dezenas só porque, casualmente, um ou outro se salva?
Talvez alguma pessoa vá à igreja para  passar tempo ou fugir da rotina. Para essa pessoa qualquer sermão serve porque ela não foi para ouvi-lo, não foi em busca de algo produtivo ou duradouro. No entanto, para aqueles que vão em busca de saciar a sede espiritual, enriquecer o intelecto, ampliar os seus conhecimento sobre a Bíblia ou sobre aplicações da Bíblia à vida moderna, não é qualquer sermão que serve.
Não é admissível, com tanto conhecimento à nossa disposição, ainda ficar repetindo o que se ouviu no passado  distante, ou falando o já muitas vezes falado. As pessoas que não estão em coma querem crescer, ver ideias novas, ser esclarecidas, ser desafiadas  a pensar. Querem algo produtivo, produto de estudo e reflexão.
Uma afirmação feita em um sermão deve ser justificada pela lógica, pela tradição ou pelos escritos. Ela nunca deve ser uma frase solta. Se for uma frase pronta, obtida de outro, deve-se dizer a fonte e justificar porque está sendo usada naquele contexto. Isso é respeitar o ouvinte e mostrar-lhe como se respeita os outros.
O tempo que uma pessoa passa na igreja deveria ser mais bem aproveitado com discursos e debates produtivos, esclarecedores. As frases de efeito devem ser justificadas, as ilustrações não podem ser infantilizantes, as acusações devem ser bem definidas e direcionadas ao objeto, e não sujeito, e o alarmismo deve ser evitado. Deve-se atacar o pecado, mas não o pecador. As contradições devem ser evitadas e a ingenuidade deve ceder lugar à profissionalização.
Isso é o que pensamos.
Antonio Sales
Nova Andradina, 06 e abril de 2013.

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