Creio que o
Velho Testamento contém lições importantes para a nossa vida. Saber como creram
e viveram os nossos antepassados nos traz lições preciosas que não podem ser
desprezadas. Tenho, porém, dificuldade em aceitar a inspiração de certos
trechos veterotestamentários.
Tomando por base a experiência vivida por Jesus no
trato com os escribas, sacerdotes e fariseus do Seu tempo, sou induzido a crer que
muito do que está escrito foi produzido para defender uma crença que beneficiaria
a liderança, que apoiaria os ensinamentos oficiais, que pusesse em destaque a
moral religiosa defendida pelos sacerdotes, que trouxesse força às imposições
que eram apresentadas pelos líderes ao povo.
Manter o povo com medo, impedir a livre expressão é
uma boa forma de se manter no poder mesmo tendo
um comportamento objetável.
Creio que foi isso que aconteceu com algumas
passagens do Velho Testamento. Foram manipuladas para intimidar, distorcidas
para apresentar um Deus a favor da
liderança, recontadas para reforçar uma posição.
Lembremos que nem sempre tivemos registros escritos
e que muito do que temos escrito hoje é resultado da tradição oral de muitas
gerações. Tradição essa que vai sofrendo alterações com o tempo e que quando
finalmente é fixada pela escrita, talvez, tenha muito pouco do original.
É com esse pensamento, pensamento de que um texto
foi manipulado, que leio a triste história de Uzá, aquele jovem que foi encarregado de
conduzir o carro de bois que levaria a arca de Deus para Jerusalém (2Sm 6:1-8).
O texto, como está escrito e como é usado nos púlpitos,
apresenta um Deus maldoso, que brinca com os seres humanos como o gato brinca
com o rato antes de matá-lo. Vejam a descrição.
Diz o texto que todos os preparativos foram feitos
para que a arca que estava na casa de Abinadab fosse conduzida para o santuário
em Jerusalém.
Durante todo o preparativo Deus estava em silêncio,
olhando sorrateiramente os preparativos em busca de alguma falha que Lhe
fornecesse um motivo para punir os homens envolvidos. Ele viu todas as falhas,
mas não disse nada. Deixou que os homens criassem expectativas, alegrassem o
coração, preparassem cânticos e treinassem músicos e cantores.
A arca ficara vinte anos na casa de Abinadab, que
não era da linhagem sacerdotal, e nada aconteceu. Nenhum sacerdote ou levita
queria cuidar dela em sua casa, então ela não fez mal ao anfitrião. Se algum
deles estivesse interessado em ter a arca sob o seu poder teria, por certo,
arrumado uma argumento de que a casa de Abinadab estava sendo amaldiçoada.
Agora o rei
assumira o cuidado dela e era preciso ocupar as posições privilegiadas de
levita e sacerdote. Era preciso reconquistar o prestígio perdido e para isso
apresentaram um Deus que deixou que a melhor madeira fosse escolhida para o
carro e que os bois mais bonitos fossem treinados para transportá-la. Permitiu
que uma grande festa fosse preparada e que roupas especiais fossem
confeccionadas. A tudo isso olhava com olhar maldoso e um sorriso irônico no
canto dos lábios. Queria pegar os não levitas desprevenidos.
Ninguém lembra que nenhum profeta foi enviado para
alertar que algo não estava bem e o texto apresenta Deus como um tipo de pai
frustrado que deseja desforrar na ingenuidade do filho a sua incompetência para
orientar. Esse o retrato de Deus que foi pintado pelo relato.
Finalmente chegou a hora esperada por Ele para
mostrar o seu capricho malévolo.
Diz
os versos 6 e 7: “E, chegando
à eira de Nacon, estendeu Uzá a mão à arca de Deus, e teve mão nela; porque os
bois a deixavam pender. Então a ira do Senhor se acendeu contra Uzá, e Deus o feriu ali, por esta imprudência: e morreu
ali, junto à arca de Deus”.
O jovem Uzá estava seguindo as orientações dos seus
líderes. Estava ali a serviço, escalado para trabalhar, para cuidar do
transporte da arca. Sentiu-se responsável e quis evitar a sua queda. Ele não
escolheu agir assim porque na hora de
uma acidente as ações humanas são respostas
a reflexos instintivos e não pensadas. Ele não se programou para
estender a mão para proteger a arca. O tropeço dos bois não estava previsto.
Esse detalhe não constava no manual e ele era o responsável. Convivera com a
arca por vinte anos e nada lhe acontecera.
Ainda hoje essa estória é contada como verdade para
amedrontar os adoradores e fazê-los cada vez menos livres, menos autônomos e
mais dependentes de seus líderes. Fazê-los temer a Deus como se teme um ditador
maldoso, um gato gigante que sai à caça de pequeninos ratos.
A estória parece produzir o efeito esperado porque o
medo impede as pessoas de questionarem o absurdo da narrativa e as lições
impróprias que dela são tiradas.
Tenho pensado que se é assim, se Deus está à
espreita então não devo me dispor mais a colaborar com Ele. Não ajudo mais em
construções de igrejas como já fiz várias vezes atuando voluntariamente em
mutirões: Ele pode me ferir com uma tijolada pela minha espontaneidade em uma
ação inesperada da minha parte.
Não devo me atrever mais a dar ofertas porque Ele
pode me castigar por estar fazendo que o que não deveria naquele momento.
Quando alguém está à espreita nunca se sabe quando
ele está contente, quando ele vai aprovar.
O texto termina dizendo que “David se contristou, porque o Senhor abrira rotura em
Uzá; e chamou aquele lugar Perez-uzá, até ao dia de hoje”.
Como a tristeza de Davi não trouxe a vida de volta a
Uzá e nem trouxe alegria a seus pais e não acalmou a Deus, não quero me arriscar mesmo sabendo que muita
gente pode chorar pela minha morte e que depois algum sermão inflamado aclame a minha dedicação. Na incerteza, me omito.
Parece que e a estória pinta um quadro tétrico de um
Deus maldoso que só ampara a liderança, uns poucos privilegiados.
Nova
Andradina, 14 de abril de 2013.
Antonio Sales profesales@hotmail.com
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