Algumas igrejas têm a pretensão
de terem seus ensinamentos fundamentados plenamente na verdade bíblica. Para os
seus adeptos há uma única interpretação correta da Bíblica e esta é propriedade
deles, da igreja à qual se filiaram. Essa certeza, não fossem os avanços
sociais e a força das instituições que defendem os direitos humanos, os
tornariam perigosos. Ao longo da história, quando não houve o cerceamento das
instituições sociais, as pessoas cheias de certeza, convictas da verdade
daquilo que sustentavam, aprisionaram, deportaram, mataram os dissidentes e
agrediram os que discordaram das suas ideias. Mataram em nome da verdade que
defendiam, em nome da certeza que tinham. Instituições religiosas mataram em
nome de Deus, em defesa da sua suposta verdade.
Para essas igrejas, que
têm a pretensão de terem seus ensinamentos fundamentados plenamente na verdade
bíblica, todos os demais sistemas estão totalmente errados e serão rejeitados por
Deus, condenados eternamente. Esses outros ouvirão a sentença: “nunca vos
conheci”(Mt 7:23).
Seus adeptos se tornam fingidos.
Sorriem para esses outros apenas com a intenção de atraí-los para a sua
verdade. Agem como a mulher sedutora que tudo faz para conquistar apenas para
mostrar o seu poder e evidenciar a fragilidade do outro. Uma vez seduzido o
outro é submetido, usado, enganado. Nesse caso, de uma religião (igreja) com
essas características de sedução, os adeptos submetidos são transformados em
sedutores.
Na realidade tal instituição
religiosa funciona como uma rede de prostituição: seduz e converte os submetidos
em sedutores. Ela faz isso para manter a sua estrutura administrativa que é
financiada pelos seus adeptos. Sua pregação não se fundamenta em verdades, mas
na sua pretensão e sua interpretação do que seja verdade, isto é, o que ela entende
por verdade divina.
Seus adeptos não são ensinados
a amar e respeitar os outros, mas a seduzi-los com uma aparência de amizade e
respeito.
Seus adeptos, uma vez foram
seduzidos e submetidos não são estimulados a ler a Bíblia de forma livre,
espontânea. Toda leitura passa a ser orientada pelo paradigma da instituição
que se diz detentora da verdade. Não há liberdade de expressão, isto é, ninguém
pode inovar, não pode expor novas ideias ou discordar abertamente do que lhe é
apresentado ainda que intimamente perceba o disparate do discurso. Tornam-se
intimidados porque temem ofender a Deus, perder a verdade ou enfrentar a rejeição
dos pares.
Um recurso utilizado
por instituições religiosas com esse perfil é considerar toda exposição pública,
toda pregação emanada do púlpito como a palavra inconteste de Deus, ainda que o
discurso seja obtuso, contraditório ou inútil por ser carente de qualquer sentido
intelectual ou prático.
Instituições religiosas
com esse perfil não admitem que os ensinamentos bíblicos sejam de caráter geral.
Não fosse assim já teriam perdido o seu valor tendo em vista o longo tempo
decorrido desde que foram escritos. O
foco dos ensinamentos bíblicos é o respeito que devemos pelos seres humanos e
por Deus. Enquanto essas instituições colocam a Deus como exigindo dedicação cega
e adoração continua dos Seus seguidores, procuram ocultar que o projetam como
um Deus caprichoso, com características humanas de dominação e controle.
Quando Jesus reiterou que
devemos amar a Deus com todas as nossas forças (Mt 2:37) entendo que Ele não se
referiu à pessoa de Deus, mas aos Seus ensinamentos que têm como objetivos o
bem-estar do ser humano. Amar a Deus é acatar o que Ele ensinou no que diz
respeito aos relacionamentos humanos. Não é Deus que deve ser o foco, mas o bem-estar
do ser humano. São os relacionamentos humanos que estão em jogo. É a
necessidade de proteger a vida e a dignidade humana que levou Deus a Se
pronunciar como sempre Se pronunciou. Profetas, juízes, apóstolos e o próprio
Jesus foram enviados para ensinar o homem viver como ser humano e não para proteger
a Deus. Foram enviados para ensinar a boa maneira do viver e não para
centralizar a vida no culto a Deus.
Aliás, Jesus desabonou
esse entendimento de um viver centrado na religião, na adoração a Deus, em
detrimento dos bons relacionamentos, e defendeu que o homem deve centrar-se no
respeito aos pais, aos irmãos e ao próximo (Mc 7: 9-12; Lc 10:25-37).
Concluo que se uma instituição
religiosa tem a pretensão de ser a portadora da verdade, a única que entende
corretamente a Bíblia e autorizada a falar em nome de Deus, deve ser olhada com
suspeita. Ela pode ser a forma disfarçada de uma rede de submissão de pessoas,
exploradora dos recursos financeiros dos seus adeptos e mantenedora de um alto (e perigoso) nível de ignorância dos mesmos.
Antonio Sales profesales@hotmail.com
Nova Andradina, 19 de
maio de 2013.
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