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domingo, 19 de maio de 2013

A IGREJA VERDADEIRA



Algumas igrejas têm a pretensão de terem seus ensinamentos fundamentados plenamente na verdade bíblica. Para os seus adeptos há uma única interpretação correta da Bíblica e esta é propriedade deles, da igreja à qual se filiaram. Essa certeza, não fossem os avanços sociais e a força das instituições que defendem os direitos humanos, os tornariam perigosos. Ao longo da história, quando não houve o cerceamento das instituições sociais, as pessoas cheias de certeza, convictas da verdade daquilo que sustentavam, aprisionaram, deportaram, mataram os dissidentes e agrediram os que discordaram das suas ideias. Mataram em nome da verdade que defendiam, em nome da certeza que tinham. Instituições religiosas mataram em nome de Deus, em defesa da sua suposta verdade.
Para essas igrejas, que têm a pretensão de terem seus ensinamentos fundamentados plenamente na verdade bíblica, todos os demais sistemas estão totalmente errados e serão rejeitados por Deus, condenados eternamente. Esses outros ouvirão a sentença: “nunca vos conheci”(Mt 7:23).
Seus adeptos se tornam fingidos. Sorriem para esses outros apenas com a intenção de atraí-los para a sua verdade. Agem como a mulher sedutora que tudo faz para conquistar apenas para mostrar o seu poder e evidenciar a fragilidade do outro. Uma vez seduzido o outro é submetido, usado, enganado. Nesse caso, de uma religião (igreja) com essas características de sedução, os adeptos submetidos são transformados em sedutores.
Na realidade tal instituição religiosa funciona como uma rede de prostituição: seduz e converte os submetidos em sedutores. Ela faz isso para manter a sua estrutura administrativa que é financiada pelos seus adeptos. Sua pregação não se fundamenta em verdades, mas na sua pretensão e sua interpretação do que seja verdade, isto é, o que ela entende por verdade divina.
Seus adeptos não são ensinados a amar e respeitar os outros, mas a seduzi-los com uma aparência de amizade e respeito.
Seus adeptos, uma vez foram seduzidos e submetidos não são estimulados a ler a Bíblia de forma livre, espontânea. Toda leitura passa a ser orientada pelo paradigma da instituição que se diz detentora da verdade. Não há liberdade de expressão, isto é, ninguém pode inovar, não pode expor novas ideias ou discordar abertamente do que lhe é apresentado ainda que intimamente perceba o disparate do discurso. Tornam-se intimidados porque temem ofender a Deus, perder a verdade ou enfrentar a rejeição dos pares.
Um recurso utilizado por instituições religiosas com esse perfil é considerar toda exposição pública, toda pregação emanada do púlpito como a palavra inconteste de Deus, ainda que o discurso seja obtuso, contraditório ou inútil por ser carente de qualquer sentido intelectual ou prático.
Instituições religiosas com esse perfil não admitem que os ensinamentos bíblicos sejam de caráter geral. Não fosse assim já teriam perdido o seu valor tendo em vista o longo tempo decorrido desde que foram escritos.  O foco dos ensinamentos bíblicos é o respeito que devemos pelos seres humanos e por Deus. Enquanto essas instituições colocam a Deus como exigindo dedicação cega e adoração continua dos Seus seguidores, procuram ocultar que o projetam como um Deus caprichoso, com características humanas de dominação e controle.
Quando Jesus reiterou que devemos amar a Deus com todas as nossas forças (Mt 2:37) entendo que Ele não se referiu à pessoa de Deus, mas aos Seus ensinamentos que têm como objetivos o bem-estar do ser humano. Amar a Deus é acatar o que Ele ensinou no que diz respeito aos relacionamentos humanos. Não é Deus que deve ser o foco, mas o bem-estar do ser humano. São os relacionamentos humanos que estão em jogo. É a necessidade de proteger a vida e a dignidade humana que levou Deus a Se pronunciar como sempre Se pronunciou. Profetas, juízes, apóstolos e o próprio Jesus foram enviados para ensinar o homem viver como ser humano e não para proteger a Deus. Foram enviados para ensinar a boa maneira do viver e não para centralizar a vida no culto a Deus.
Aliás, Jesus desabonou esse entendimento de um viver centrado na religião, na adoração a Deus, em detrimento dos bons relacionamentos, e defendeu que o homem deve centrar-se no respeito aos pais, aos irmãos e ao próximo (Mc 7: 9-12; Lc 10:25-37).
Concluo que se uma instituição religiosa tem a pretensão de ser a portadora da verdade, a única que entende corretamente a Bíblia e autorizada a falar em nome de Deus, deve ser olhada com suspeita. Ela pode ser a forma disfarçada de uma rede de submissão de pessoas, exploradora dos recursos financeiros dos seus adeptos e mantenedora de um  alto (e perigoso) nível de ignorância dos mesmos.
Antonio Sales     profesales@hotmail.com
Nova Andradina, 19 de maio de 2013.

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