Decidi por escolher uma
verdade após ter ouvido uma música em que o cantor dizia: “nós queremos a
verdade e nada mais do que a verdade”.
Esse é um pensamento
interessante. Realmente devemos optar pela verdade. Sou adepto dessa filosofia,
mas confesso que a verdade que quero não é aquela pronta, inquestionável.
Muitas pessoas têm a concepção
de que a verdade é única, é sempre a mesma, é algo que nos foi dado pronto.
Entendem que devemos buscar somente essa verdade e que para isso temos que
procurar alguém que a domine e no-la transmita.
Um problema que vejo nessa
concepção é que ficamos reféns de alguém que, supostamente, tenha a verdade. E
se esse alguém não for verdadeiro? E se ele estiver nos “vendendo” uma verdade que não possui?
E se a “verdade” que as
pessoas ou instituições nos apresentarem não for verdade?
Diante dessas questões
quero me aproximar da verdade, conviver com a verdade, mas aquela verdade que se
obtém por aproximação. A que se obtém pela busca contínua e pela renovação das
perspectivas. Estou falando da verdade que vai sendo construída. Algo como o
conceito de limite em Matemática antes de ser definido plenamente o ponto de
convergência.
É uma verdade que não é
absoluta, que está em construção, que eu quase toco nela, mas que sempre me escapa.
Aproximo-me dela, mas não a tenho. Vejo-a, mas não a agarro. Conheço-a, apaixono-me
por ela, busco-a, mas não me aproprio dela.
É uma verdade quase
inquestionável, mas não totalmente inquestionável. Quase pronta, mas em constante construção.
Por que penso assim?
Porque quero essa verdade que não é absoluta?
Porque a verdade
absoluta é inquestionável, é intransigente. Quem pressupõe ter essa verdade
plena se torna perigoso. Essa pessoa é capaz de ferir em nome da verdade, é
capaz de matar os que se opõem à sua verdade absoluta.
Assim fizeram os judeus
no tempo de Cristo. A pretensão da posse da verdade absoluta não lhes permitiu
dialogar com o enviado de Deus. Quem quer correr o risco de perder a verdade
absoluta? Quem quer negociar ou aceitar que se questione o inquestionável?
Na Idade Média não foi diferente. Muitos
morreram em nome da proteção da verdade, dessa sua qualidade inquestionável. Os
homens da verdade absoluta não se permitiam serem questionados.
Hoje, conheço muitos
que se tornam insuportáveis por julgarem ter alcançado a verdade em sua
plenitude. São arrogantes, intolerantes para com a minha ignorância. Não
suportam as minhas questões e querem inibir o meu livre pensar.
A verdade absoluta, por
ser inquestionável é inibidora do crescimento intelectual. A posse dela faz cessar
a busca. Quem supõe possui-la, para de crescer. Parar de crescer, para mim, é “envelhecer”,
é apostar na morte. Estagnar é morrer.
A verdade que procuro é
desafiadora, é portadora de vida intelectual, é divina porque Deus é vida.
Confesso que não quero
ter amigos incapazes de discutir as suas convicções. Tenho medo deles. Os que
acreditam ter encontrado a verdade absoluta são perigosos. Fujo deles, porque
fujo da morte anunciada.
Antonio Sales profesales@hotmail.com
Nova Andradina, 14 de
junho de 2013.
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