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quinta-feira, 14 de julho de 2011

O Homem, a Lei e a Graça em Romanos-II



Três Concepções de Pecado
Antonio Sales
profesales@hotmail.com
Se creio no poder transformador da graça de Deus (e Paulo cria também) como explicar essa dificuldade em entender o que Paulo disse na sua carta aos romanos sobre a graça e o nosso relacionamento com a lei?
Não há resposta objetiva para esta pergunta. Mas, sem dúvida, influenciam nessa dificuldade as nossas ideais preconcebidas, as orientações que recebemos e até mesmo as pregações que ouvimos.
De qualquer forma parto do pressuposto que há pessoas transformadas pela graça e é a essas pessoas que me refiro quando falo de cristãos.
Antes de prosseguir creio ser oportuno apresentar ao leitor o que considero como dimensões da salvação. No meu entender a salvação tem duas dimensões: a divina e a humana. A dimensão divina comporta conceitos como: graça, perdão, amor ilimitado, tolerância, busca e oportunidade. A dimensão humana comporta apenas o conceito de aceitação. Cabe ao ser humano apenas aceitar ou não aceitar, ser salvo ou não ser salvo (Heb. 2:3).
Para entendermos Romanos precisamos ainda analisar as três concepções de pecado: condição humana, ato praticado e ato em potencial.
Como seres humanos nascemos em um condição desfavorável, em um contexto que nos provoca ira, estresse e o desconfortável sentimento de ódio ou revolta entre e outros desconfortos de ordem moral e emocional além dos inconvenientes de ordem física. Penso que é este o pensamento do salmista (Sal. 51:5) quando afirmou que foi concebido em pecado. Ele se coloca como vítima de um contexto que ele não construiu (originalmente), mas que está contribuindo para que se mantenha. Não somos culpados por essa condição de nascimento e também não o somos por muita coisa que acontece em nossa vida. Quando estamos falando em pecado “original” não faz sentido falar em culpa ou culpados. Podemos falar em vítimas ou herdeiros e consequências.
Imagino que o filho de uma família de fumantes se resolver não aprender a fumar terá muito mais dificuldades do que aquela criança que nasceu em uma família de não fumantes. Os dois poderão aprender ou não aprender a fumar, mas para um a decisão de não fumar deverá ser mais fácil do que para o outro.
. Uns precisam de mais graça do que outros para vencer certos hábitos. Há pessoas que não têm propensão para a bebida, logo precisarão de menos esforço e menos graça para ficar sem beber. Há pessoas que tem propensão para a bebida, essas necessitam de uma dose maior de graça para superar o desejo. Não somos todos iguais.
Mesmo uma pessoa pode ter facilidade para dominar um hábito e dificuldade para dominar outro. Facilidade para compreender uma exigência da lei e dificuldade para entender outra. Cada um de nós precisa de menor esforço pessoal e menos graça para dominar alguns impulsos e  de mais esforço e maior dose de graça para dominar outros.
Até aqui falamos do pecado como condição humana onde não se fala em culpa. A segunda concepção de pecado: á ato praticado. Não um ato acidental, mas aquele ato premeditado, intencional, rebelião declarada, preconceito “carinhosamente” cultivado. Enfim, transgressão aberta. Esse pecado deve receber a punição justa prevista em lei. Aqui não há espaço para a tolerância. Conviver com esse tipo de pecado é permissividade.
Não entram nesta segunda categoria os erros de processo, isto é, aqueles que cometemos enquanto aprendemos, os que cometemos porque no momento da prática nos parecia ser a única maneira viável de agir.  São os erros circunstanciais que não os evitamos porque não os planejamos. Por isso a escritura diz que Deus não leva em conta os tempos de ignorância (Atos 17:30). Os erros de processo devem ser incluídos na primeira categoria, na categoria do pecado como condição humana. De alguma forma herdamos certa dificuldade de acertar. O contexto dificulta o acerto e nos coloca em situações que não gostaríamos de estar. Esse mesmo contexto perverso do nosso viver nem sempre nos permite prever o resultado dos nossos atos.
O pecado como condição humana deve receber tratamento diferente do pecado como ato praticado. Embora ambos tragam consequências os motivos da sua prática são diferentes.
Continuaremos.
Texto produzido em Novembro de 2010 e incorporado ao livro: “ O Homem, a Lei e a Graça em Romanos publicado em abril de 2011.

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